Ao iniciar este artigo sobre a pandemia do COVID-19, as palavras escorregam-me para os adjectivos, que nem sei muito bem quais escolher…
Aprendi a funcionar em sentido inverso, com o sujeito, o facto, a evidência onde a ciência segue ancorada.
Na área em que escolhi trabalhar, a Medicina, prima a evidência científica e na especialização em que completei a minha formação pós-graduada, a Saúde Pública, sobressaem os números e a estatística. O tal instrumento que suporta a análise do risco e nos dá as estimativas de resultado, aquela que nos oferece as probabilidades que suportam a escolha da intervenção mais efectiva e eficiente, para todos: população, organizações, gestores e políticos.
Apesar desta área da Saúde estar centrada na vigilância epidemiológica, que não é mais do que observar, descrever e analisar todos os fenómenos em saúde, com instrumentos científicos, para que dessa investigação resultem soluções para o problema que a desencadeou, perante esta pandemia do COVID-19, a sensação que mais assombra é a de que lutamos contra moinhos de vento (ou contra o já chamado inimigo invisível) e recordo-me de imediato da obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha, porque tal como Dom Quixote, a população caminha em direcção a um futuro incerto, perdida entre “a razão e a imaginação”, sem um rumo concreto em direcção a uma meta objectiva, basta estarmos atentos à diversidade de posições e decisões entre os líderes políticos das inúmeras nações relativamente aos factos divulgados pela comunidade científica.
(É importante, neste momento, ressalvar o enorme esforço que a Comunidade Europeia tem desenvolvido no combate à divulgação de fake news nas redes sociais e internet, de uma forma geral, através do Grupo de Trabalho constituído com esta intenção, e cuja intervenção tem sido crucial na garantia que a informação divulgada nestes meios seja da melhor qualidade científica possível.)
É neste ponto que, recorrendo à mesma obra literária, recordo o fiel amigo de Dom Quixote, o Sancho Pança (que tal como as organizações científicas) insiste em chamá-lo à razão e demonstrar pela evidência de que a única certeza que temos é, na realidade, de que somos efémeros e de que somos nós, simultaneamente, os responsáveis e as vítimas da situação de pandemia que estamos a viver e que a solução para vencer esta batalha está em cada um de nós, num exercício de cidadania.
O esforço do “Sancho Pança” tem a intenção de demonstrar a “Dom Quixote” que é urgente que ele reconstrua a sua visão da realidade, que o idealismo e o pragmatismo devem andar de mãos dadas e que o futuro assenta na mudança e na alteração do comportamento de ambas as personagens, num esforço conjunto e coordenado de acções concretas e guiadas pelo bom senso.
Isto significa, no mundo real, que é urgente a tomada de consciência por cada um de nós da necessidade de repensar o comportamento do cidadão e da organização da sociedade em geral, em particular no que toca ao impacto que causamos no planeta que habitamos, na forma como funcionamos em comunidade e nos valores em que assenta a sociedade que construímos.
Neste momento, mais do que nunca, faz todo o sentido que a estratégia política da União Europeia se desenvolva numa perspectiva de reforço da união e do apoio solidário entre os seus estados membros na luta contra a pandemia pelo COVID-19 e que o framework da mudança se consolide em torno dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), porque este é, sem dúvida, o rumo certo para modificar a espiral de erros cometidos pela transformação industrial e tecnológica da sociedade ao longo dos séculos.
É, por isso, premente o compromisso político e social na concretização integral de estratégias que criem as condições para que as metas definidas para os ODS 2030 sejam atingidas e aí sim, os anseios do “Dom Quixote e seu fiel amigo Sancho Pança” podem ser cumpridos: Dom Quixote pode reerguer-se e continuar a lutar, com honra e coragem, pelos seus ideais e reinventar o mundo e Sancho Pança, seu fiel amigo, terá a oportunidade de crescer com os ensinamentos de Dom Quixote, nomeadamente a necessidade de manter uma conduta justa e irrepreensível e entender que a empatia deve ser uma importante aliada da liberdade do pensamento.
Fazendo uma analogia com esta obra fabulosa, considero que o momento que actualmente vivemos é particularmente exemplar em demonstrar a necessidade de nos reinventarmos, guiados pela evidência científica e pelo bom senso nas decisões políticas. A catástrofe humanitária e climática que vivemos resulta, sem dúvida, do impacto da acção humana em todo o ecossistema e da enorme dimensão da sua pegada ecológica.
A pandemia COVID-19, sem particularizar a análise dos dados estatísticos, deve ser encarada como um sério alerta do que pode ser o resultado de um aproveitamento irresponsável dos recursos naturais, da construção de comunidades em que grassa o desrespeito pelos valores humanos essenciais, onde se acentuam as iniquidades nos direitos humanos fundamentais: o direito à alimentação, o direito à saúde, o direito a uma vida digna onde cada um possa desenvolver os eu potencial de saúde.
A luta contra esta pandemia vem provar que a concretização de estratégias assentes na cooperação entre nações, entre comunidades, entre organizações e a consolidação da participação e intervenção da comunidade nesta batalha são a resposta aos desafios do futuro e que as metas definidas para os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável são um contributo inegável neste processo de mudança.A COVID-19 está a demonstrar que só uma cooperação global entre nações pode ter impacto na evolução desta pandemia, pelo que a efectividade da resposta depende do espírito solidário entre os países.
A existência da União Europeia e a coesão entre os seus estados membros na adopção de estratégias concretas e coordenadas tem sido determinante no combate a esta pandemia no espaço europeu e mundialmente.
Este desempenho está a demonstrar a relevância do seu papel na resolução de problemas emergentes e deve reforçar a confiança da população nesta Organização Europeia como garantia de um futuro assente em condições de vida dignas para todos os cidadãos e no equilíbrio político e financeiro ao nível mundial.
Tal como Dom Quixote, que simboliza a liberdade de pensamento, o idealismo, e o seu amigo Sancho Pança que representa o racionalismo, o materialismo e pragmatismo, a ciência e o senso comum, as organizações políticas e as sociedades civis, podem e devem seguir caminho de mãos dadas, numa relação de empatia e solidária, na construção de um admirável mundo novo, feito de equilíbrio entre a natureza e a criação humana, legado que todos desejamos deixar para as novas gerações.
Se acreditarmos na nossa capacidade de nos reinventarmos, se formos resilientes e se alimentarmos a esperança na nossa capacidade de transformar o mundo, todos, de forma coordenada, vamos conseguir vencer a covid-19 e todas as outras batalhas que possam surgir.
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