Nos últimos anos, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) tem estado em maior destaque. Graças ao aumento da sensibilização por parte de profissionais de saúde como psicólogos e psiquiatras, bem como à disseminação de informações sobre o tema, esta condição ganhou mais visibilidade. Antes, era muitas vezes esquecida, especialmente no caso das mulheres adultas.
Mas, afinal, estamos perante uma moda ou uma realidade ignorada durante décadas?
O que é a PHDA?
A PHDA é uma perturbação do neuro desenvolvimento que afeta a forma como as pessoas regulam a atenção, controlam os impulsos e organizam as suas vidas. Normalmente associada à infância, esta condição pode persistir na vida adulta, afetando até 5% da população.
Apesar de se estimar que cerca de 3% das mulheres adultas possam ter PHDA, muitas delas continuam sem acesso a uma avaliação adequada ou a um diagnóstico
Os sintomas mais comuns incluem dificuldade em manter o foco, desorganização, adiamento constante de tarefas (procrastinação) e dificuldade em gerir o tempo. No trabalho e na vida pessoal, estas dificuldades podem levar a baixa produtividade laboral, sensação de fracasso e, frequentemente, ansiedade ou depressão.
Com a vida adulta chegam mais responsabilidades — desde a carreira à gestão familiar — e, para quem tem PHDA, estes desafios tornam-se ainda piores. Infelizmente, é comum que quem não compreende a perturbação acabe por rotular estes adultos como “preguiçosos” ou “irresponsáveis”.
PHDA nas mulheres: desafios ocultos
Apesar de se estimar que cerca de 3% das mulheres adultas possam ter PHDA, muitas delas continuam sem acesso a uma avaliação adequada ou a um diagnóstico. Porquê? Os sintomas nas mulheres tendem a ser mais discretos: menor incidência de hiperatividade e maior presença de desatenção. Isto faz com que a condição passe despercebida ou seja confundida com ansiedade/stress ou traços de personalidade.
Sem o apoio necessário, a PHDA pode levar ao esgotamento físico e mental (burnout) ou agravar problemas como ansiedade e depressão
Nas mulheres, a PHDA manifesta-se frequentemente através de esquecimentos constantes, dificuldade em cumprir prazos, ansiedade em relação à produtividade e uma sensação de estar sempre sobrecarregada. A pressão social para equilibrar trabalho, família e vida pessoal acaba por intensificar o sentimento de culpa e frustração e só piora a situação, gerando sentimentos de culpa e frustração.
Sem o apoio necessário, a PHDA pode levar ao esgotamento físico e mental (burnout) ou agravar problemas como ansiedade e depressão.
Diagnóstico e intervenção: o papel da sensibilização
A recente atenção dada à PHDA deve-se em grande parte à maior sensibilização dos profissionais de saúde e à partilha de experiências através das redes sociais. Estas partilhas têm ajudado muitas pessoas a identificar sintomas e procurar ajuda.
Uma intervenção eficaz começa com um diagnóstico preciso, realizado por equipas multidisciplinares, que incluem psicólogos e psiquiatras. A abordagem pode incluir terapia cognitivo-comportamental, ferramentas para organizar o dia-a-dia, e, em alguns casos, medicação. Pequenas mudanças no dia-a-dia, como o uso de listas, agendas ou técnicas de mindfulness, podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida.
Conclusão
Longe de ser uma “moda”, a PHDA é uma perturbação real que tem sido ignorada durante décadas, especialmente no caso das mulheres. É fundamental continuar a sensibilizar a população e a formar profissionais de saúde para que mais pessoas possam receber o apoio que precisam. Apenas com compreensão e suporte é possível quebrar o ciclo de invisibilidade e transformar a vida destes indivíduos, ajudando-os a atingir o seu pleno potencial.
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