Vamos vivenciar uma das épocas mais transversais e unânimes do calendário judaico-cristão: o Natal.
Época traduzida em muitas e plurais boas vontades, sorrisos, “abraços”, harmonia e votos de tempos mais sorridentes que, naturalmente, se repetirão para os “sobreviventes” deste obrigatório convívio daqui a 11 meses…
Há uns anos este convívio era antecedido de cartas ao “Pai Natal”, de juras de bons comportamentos, melhor aplicação nos estudos e menos egoísmo em relação aos irmãos…
No dia mágico, percebia-se que o João era primo, porque filho da tia Maria, irmã do pai que vivia numa terra que se chamava Évora… e que a pequenina, também Maria, que estava sentada na mesma perna do avô era a filha da madrinha Joana…
O relógio do salão estava naturalmente adiantado duas horas, para que 15 minutos antes da “hora do Pai Natal”, com um “apagão” simulado, entre guinchinhos infantis, fossem colocados os presentes nas chaminés, prometendo-se que para o próximo ano o Pai Natal havia de beijar todos e trocar algum dos presentes que não tivesse avaliado bem…
O Natal foi durante muitos anos para mim esta época de “fartura” e tréguas entre alguns dos convivas, que a minha sensibilidade precoce me sublinhava em comportamentos e convívios menos estimulados entre a família…
Com o crescimento, com o saltar da freguesia, do concelho, do distrito… e, depois, do país… percebi que o Natal, afinal não era “obrigatório” para todos…
Neste meu exílio, é domingo, Tavira, bela, sedutora e sensual, parece-me amaldiçoada às 16 horas e só. Enquanto eu “piegas”, à volta dos meus rascunhos herdados e de outros que me atrevo a registar, com a sua elegância única a minha companheira concentrava-se no guarda-fato, intervalo e, finalmente, tenho a coragem de abrir a correspondência deliciosa que 15 anos após a morte dos meus pais me coube como espólio…
Gostava de fazer uma declaração sentida, vivenciada e estranhamente feliz de poder passar este Natal junto daqueles da qual é diversa a história de Natal com que comecei o artigo.
Faço parte, como representante da Associação Raiz, com a sub-reitora da UAlg, da PAR (Plataforma dos Refugiados)… ainda na sexta-feira estive duas horas em antena na Rádio Gilão a falar das respostas que temos em relação aos refugiados que estão para vir, independentemente dos apoios “institucionais”, orçamentados e juridicamente enquadarados, desde Setembro…
Vergonhoso é sabermos que os únicos que cá estão, estão em Penela… são quatro famílias… elas naturalmente de lenços que lhes cobrem o rosto e o “macho” com uma gravata que lhe desfigura a pose, mas o “cristianisa”…
Com a energia a pensar que as palhinhas substituam o arame farpado.