A Alfaguara publica agora Os Informadores, primeiro romance do premiado autor colombiano Juan Gabriel Vásquez, um dos mais celebrados escritores contemporâneos de língua espanhola, sobejamente conhecido por A forma das ruínas.
Quando o jornalista Gabriel Santoro – note-se que o protagonista do romance é homónimo do autor e, tal como ele, jornalista – publica o seu primeiro romance, escrito a partir da história pessoal de Sara Guterman, não pode imaginar que a crítica mais devastadora será escrita justamente pelo pai – crítica essa, aliás, que exacerbou justamente a visibilidade de um livro que provavelmente teria passado despercebido. Uma Vida no Exílio, o único livro de Gabriel Santoro filho (note-se também este jogo de espelhos em que pai e filho perfilham o mesmo nome), cristaliza a memória de Sara, uma amiga de família, criada com o pai, judia chegada à Colômbia nos anos 30, em fuga à Alemanha nazi.
Mas esse livro representará também o exílio de Gabriel Santoro, quando o pai se afasta e não lhe perdoa ter remexido no passado, ao recontar a história de Sara – como se preferisse negar ou esquecer a história dos judeus. Até que, 3 anos depois, o pai convida Gabriel a ir a sua casa, como forma de se sentir menos sozinho face a uma operação que se torna iminente, também numa tentativa de escrever a sua segunda vida.
Neste exercício literário de desvelamento, em que a verdade se vai despindo por camadas como uma cebola, Os Informadores é narrado numa sucessão de versões da história, em que os acontecimentos vão ganhando uma nova luz, conforme os segredos e as traições são desenterradas e, por conseguinte, originam uma nova versão de parte da história, e uma nova necessidade de a testemunhar por escrito: na última parte do livro, quase um prólogo, assume-se como OsInformadores é o título do segundo livro de Gabriel Santoro.
Nos 6 meses depois da operação, o pai de Gabriel tenta sanar os erros do passado, mas não é ao filho que revela o verdadeiro motivo da sua irascibilidade perante o livro sobre Sara, a informadora de Gabriel que testemunha a história de um negro período em que a sombra da II Guerra chega à Colômbia. Lembremos as palavras de Gabriel pai numa das suas aulas (quando, na verdade, se dirige ao filho): «Nessa época todos tínhamos poder, mas nem todos sabíamos que o tínhamos. Apenas alguns o utilizaram. Foram milhares, claro: milhares de pessoas que acusaram, que denunciaram, que informaram. (…) o sistema das listas negras deu poder aos fracos, e os fracos são a maioria. Assim foi a vida durante esses anos: uma ditadura da fraqueza.» (p. 63)