Antes de entrarmos nas polémicas, quem são esses tais dos halogénios? Os halogénios são uma família de elementos químicos que, na famosa tabela periódica dos elementos, se encontram na penúltima coluna, à direita, encostados aos Gases Raros e, ao contrário destes, que são inertes, são super reactivos. São eles o Fluor, o Cloro, o Bromo, o Iodo e por aí vai, cada vez maiores e com nomes bem esquisitos.
Primeira polémica, vem do lado do Fluor. Sessenta e dois por cento da água potável dos USA tem fluor artificialmente adicionado e agora RFK JR, que está neste momento a ser avaliado pelo Congresso norte americano, para o mais elevado posto relacionado com a Saúde no governo Trump, está em campanha pela desfluoretização da água desse país. Porquê?
Viajemos no tempo. No princípio do século XX, usava-se o fluor na água para evitar a cárie dentaria nas crianças, mas descobriu-se que também fazia mal, não só porque manchava os dentes das crianças, mas exposição prolongada no tempo pode afetar os ossos da coluna. Lá para os anos 70, na Suécia, o Dr. Arvid Carlsson, laureado Nobel de Medicina, no ano 2000, encabeçou, por duas vezes (link: https://fluoridealert.org/pt/content/carlsson-interview/), uma campanha e em ambas as vezes conseguiu impedir a fluoretização da água no seu país. Dizia que, não fazia sentido nenhum ingerir um produto tóxico, repito, tóxico, e que estudos mostravam não haver nenhuma diferença nos níveis de caries dos suecos relativamente a outros países que fluoretizavam a água. E daí para cá, todos os países na Europa, – aliás, todos os países, exceto a Irlanda – foram deixando essa prática. Hoje, quanto muito defende-se que cada um toma o fluor que quiser, por aplicação local, em pastas, elixires de higiene oral e tratamentos nos dentistas. Relembremos que o fluor é tóxico, e que o problema é que para além de presente em várias bebidas, os miúdos, e alguns adultos também, engolem pasta de dentes e esse nível de fluor, quando ingerido, pode ser toxico.
E toxico quer dizer o quê concretamente? (link https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7261729/) https://www.fs.usda.gov/t-d/pubs/html/05231301/05231301.html
Recentemente, estudos epidemiológicos sugeriram que o flúor é um neurotóxico para o desenvolvimento humano que reduz as medidas de inteligência nas crianças, colocando-o na mesma categoria dos metais tóxicos (chumbo, metilmercúrio, arsénico)… Reduz o QI das crianças – definitivamente, ser tóxico, não é bom.
Depois do mau Fluor vem o péssimo Cloro, nos membros desta família disfuncional. O Cloro, que adora o seu amigo Sódio, junto fazem o cloreto de sódio, o sal que tanto apreciamos gastronomicamente e que separados constituem os dois principais eletrólitos do nosso corpo. Que mal poderia vir deste lado?
Acontece que o Cloro é também usado para tratar as águas das piscinas, tem aquele cheiro bem característico e pode ser absorvido pela pele. A segunda polémica vem da ideia de que demasiada exposição a essas águas cloridratadas não faz bem à saúde, porque é o Cloro, nesta apresentação é tóxico, e hoje há recomendações (link: https://www.fs.usda.gov/t-d/pubs/html/05231301/05231301.html) como por exemplo a de incluir Vitamina C nesse processo de desclorinização, se é que esta palavra existe, evitar essas piscinas ou dar preferência por piscinas de água salgada ou tratada com ozono. (Sugestão para quem está a usar piscinas cuja água é tratada com Cloro – primeiro, passar por água imediatamente antes de entrar na piscina reduz os níveis de cloro absorvidos pela pele; e segundo, tomar um longo duche imediatamente depois, com sabão e muita água, também.)
Depois do Cloro, vem o Bromo, que também não é flor que se cheire. É, aliás, o ‘ainda pio’ desta família, porque tem muitas utilizações industriais e é muito usado como retardador de chama em tecidos, é também usado como inseticida e é incorporado na farinha de trigo para reagir com o glúten, fazer bolhinhas e tornar pães e bolos mais fofinhos, que muitos comemos todos os dias. O Bromo é considerado um produto cancerígeno. Horrível.
Tem um cheiro reconhecível a “estofo de carro deixado ao sol por muito tempo”. Uma sugestão para quem tem carro: Abrir a porta do carro, talvez abrir mesmo duas portas do carro e deixar a arejar, porque, Bromo inalado pelos pulmões a dentro não interessa a ninguém.
Chegamos, finalmente, ao Iodo e aqui, chapeau, o herói desta fita. Se há halogéneo com pinta, é o Iodo, o único bom halogénio para a nossa saúde. Para já, o nosso corpo adora o iodo – do pescoço para cima, incluindo tiroide e cérebro, que prefere o iodo inorgânico; do pescoço para baixo, ou seja, para todo o resto do corpo, o preferido é o iodeto, o sal. Com uma exceção, as mamas das senhoras, que gostam dos dois.
O iodo encontra-se em vários tecidos do corpo, nos músculos, no cérebro e somente 5% na tiroide. Embora seja na tiroide que este se encontra mais concentrado, é nesta glândula que, pressionada pela hormona TSH, é fabricado o T4, com quatro átomos de iodo, percursor da T3, com três átomos de iodo, que são hormonas que regulam basicamente tudo e mais alguma coisa no nosso metabolismo.
O Iodo é absolutamente essencial para o bom funcionamento do nosso corpo, e, infelizmente, está cada vez menos disponível nos alimentos que ingerimos. Era boa ideia cada um de nós pensar se precisa de suplementar.
Estima-se que 31,5% das crianças em idade escolar (266 milhões) tenham uma ingestão insuficiente de iodo. Na população em geral, 2 mil milhões de pessoas têm uma ingestão insuficiente de iodo.
Portanto, o Iodo é o bom, e o resto da família, uns chatos de personalidade tóxica e ainda por cima invejosos. O que acontece é que, quando na corrente sanguínea há a presença de quantidades de tóxicos, halogéneos como Fluor ou Cloro ou Bromo, qualquer um deles é um elemento bem mais reativos do que o Iodo. Pois é, infelizmente, qualquer um destes átomos pode tomar o lugar do Iodo nos recetores, e, portanto, inativam os efeitos essenciais e benéficos das hormonas com iodo na sua estrutura (link: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6466022/).
Insuficiência de Iodo está na origem, por exemplo, do hipotiroidismo. Os sintomas mais comuns do hipotiroidismo são a fraqueza e desanimo, intolerância ao frio, queda de cabelo, o aumento de peso, aumento do tamanho da glândula da tiroide, unhas fracas, redução do paladar, prisão de ventre, alterações na menstruação, disfunção erétil, perca de líbido, edema, que são característicos do hipotiroidismo.
Está estimado que 25% da população mundial tem deficiência em Iodo e que 5-10% sofre de hipotiroidismo (link https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6284174/ e link https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6822815/).
Arriscando ser um pouco repetitiva, penso que ninguém irá estranhar que a vitamina C ajude a regular os níveis das hormonas da tiroide, certo? (link: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10335618/#edm2432-sec-0015)
A vitamina C pode corrigir anomalias nas concentrações séricas de T4, T3 e TSH em pacientes com hipotireoidismo e doença gastrointestinal.
Mas, para acabar com uma nota dramática, mas também divertida, há ainda uma outra polémica, ainda relacionada com o Fluor, esse vilão. A ciência, nesta área, está em plena mudança de paradigma e uma nova teoria está devagarinho a ser incluída na prática médica (link: https://www.nature.com/articles/s41368-022-00163-7). Os investigadores estudam que tudo o que tem fluor e que usamos na higiene oral, e por exemplo, não é positivo para a nossa saúde e sugerem que deveríamos substituir as nossas pastas de dentes por uma outra que incluam hidroxiapatita, que é um dos componentes naturais da camada mais externa dos nossos dentes. Essa camada é constituída em 97% por hidroxiapatita, que a responsável pela eficácia de remineralização do dente e tem ação anti cárie.
Mais. Para os que defendem esta nova teoria que parte da microbiota oral, e o seu envolvimento em tudo o que é doença crónico, recomenda-se (link: https://www.youtube.com/watch?v=KNRCTXz3V3I) para uma boa saúde oral, que, para além de acabar com o fluor na parta de dentes, em vez de elixir, que também tem fluor, seria preferível bochechar com água se possível com Ph alcalino, acima de 7, ou com água saturada com um bom sal de mesa que inclua muitos minerais; só usar fio dental de seda para evitar os microplásticos; que convém raspar a língua, sem escovar; massajar as gengivas com os dedos e ainda, que há uma pastilha elástica, porreira, 100% Xilitol, que é um probiótico com uma acção anti-placa surpreendente – basta mastigar 5 minutos e depois não comer nem beber nada durante uma hora (link https://www.youtube.com/watch?v=Zo0xT6Y0-Po) e surpreender-nos e ao nosso dentista . É mesmo uma mudança de paradigma.
Curioso, e aliás divertido e relacionado com a pasta de dentes sem fluor, é que parece que é aqui em Portugal que se vende uma das melhores pastas de dentes com hidroxiapatita, com o nome comercial que já foi de Pasta Medicinal Couto e cuja produção se iniciou, por aqui, há quase 100 anos. Nos meus tempos de infância havia um anúncio na TV que começava assim: “Palavras para quê?… É um artista português e usa Pasta Medicinal Couto”, uma frase que ficou na história da nossa publicidade.
Vejam o vídeo do anúncio que é imperdível (link do anúncio https://www.youtube.com/watch?v=6J_qftpPmOg)
(continua na próxima semana)

a opinião de TERESA F MENDES
Química e comunicadora de ciência.
Curiosa por natureza.
Humanista por opção.
Disruptiva por defeito.
Leia também: O que poucos sabem mas muitos deviam saber sobre Vitamina C | Por Teresa F Mendes