A espécie humana continua a fazer guerras tal como os primeiros hominídeos. Quanto mais se avança no tempo mais ‘refinados’ são os seus promotores, estes reproduzem-se a uma escala cada vez maior e pululam por todo o mundo, apenas provocam a guerra para tirarem benefícios pessoais dela. Ai daqueles que são apanhados nos laços da mobilização para “defenderem a pátria”.
Os ex-combatentes nas guerras coloniais em África, sofreram e continuam a sofrer por causa da estupidez política de quem nunca viu uma guerra ‘por dentro’. E há aqueles que dizem, que a juventude, da década de 60 e princípio da de 70, só foi para a guerra porque quiseram, é triste ouvir frases estonteantes daqueles que pegaram em meios financeiros e no seu diploma e fugiram para o estrangeiro. Hoje são esses e todos aqueles que fazem vida de “lordes” que fazem a vida ainda mais negra a todos os ex-combatentes portugueses.
O ex-ministro Paulo Portas instituiu, há cerca de vinte anos, uma anuidade simbólica de 150 euros por ano para todos os que tinham ido para a guerra, a qual eu entendo como homenagem a todos os que foram lá. Como foi considerado ser muito dinheiro o então primeiro ministro Sócrates, do PS, reduziu para 75€ e escalonou por patentes militares até aos 150€, como se os três anos de vida no serviço militar fossem mais importantes para uns do que para outros, fazendo depender essa valoração das divisas que levavam nos ombros, em minha opinião pura sacanice política. Hoje, os discípulos dessa personagem política actuam de forma mais refinada, fingem que dão qualquer coisa. Para todos aqueles ex-combatentes, actualmente todos com mais de 70 anos de idade, o governo criou uma insígnia para colocar na lapela e um cartão com benefícios que já estão ou já estavam em vigor para toda a sociedade, mas não aumentaram aquela pensão que já nem é simbólica é uma esmola a gozar com os ex-combatentes, nem lhes dão benefícios especiais na assistência e na saúde apesar de muitos ainda sofrerem sequelas psicológicas e físicas da guerra. Há muitos que estão cegos, sem braços ou sem pernas e recebem pensões de miséria.
Há poucos anos começaram a surgir homenagens locais aos ex-combatentes mortos ou mutilados em combate, promovidas pelas autarquias ou por unidades militares, aos outros que estão vivos só quando forem poucos e que nenhum deles tenha a coragem política de dizerem algumas verdades inconvenientes. Contudo, cabe ao governo, de qualquer partido, criar agora as condições dignas de existência daqueles que deram uma grande fatia da sua juventude, servindo de carne para canhão, defendendo uma peseudo pátria que na realidade era o conjunto dos interesses dos exploradores do povo português e dos povos locais e cujos alunos continuam a dominar os ‘cordelinhos’ da política. O actual primeiro ministro criou uma Secretaria de Estado dos Ex-combatentes a qual apenas serviu para amainar as crescentes reivindicações que estavam a surgir nas redes sociais e na imprensa.
Acima de tudo, estes anciãos não são respeitados como ex-combatentes que foram obrigados a irem para a guerra. Um dia no futuro, depois de morrem todos, será feita uma homenagem nacional a agradecer o seu sofrimento e de suas famílias, mas nada de reconhecimento material enquanto estiverem vivos. Contudo, não aceito que venham a ser tratados como “coitadinhos”.
Não se pode esperar nada da Liga dos Combatentes porque sempre foi e continua a ser gerida por ex-militares profissionais de alta patente, mas esses tinham aquela profissão, não interromperam a sua vida privada nem profissional nem foram para lá obrigados, talvez alguns tenham beneficiado a sua vida com a própria guerra e seguem o princípio do ‘politicamente correcto’. Lembro que todos aqueles que andaram a montar ou desmontar minas, a picar as estradas para as viaturas passarem e que sentiram os projéteis passar-lhe por cima, são civis há pelo menos cinquenta anos. Os pequeninos estão sempre à mercê dos grandes.
Ao terminar, quero deixar aqui uma saudação especial a todos aqueles que sofreram na pele as agruras e privações no campo de batalha quando estiveram naquela guerra sem sentido.