Vivemos num tempo em que a pressão pela perfeição se tornou implacável. Numa era digital onde cada ação, palavra ou decisão pode ser gravada e divulgada em segundos, os erros, que outrora eram vistos como oportunidades de aprendizagem, tornaram-se em condenações públicas. Esta mudança na forma como encaramos os erros é profundamente preocupante, pois está a minar a nossa capacidade de sermos humanos.
Os erros sempre foram uma parte essencial do desenvolvimento pessoal e social. Historicamente, errar era um passo natural no processo de aprendizagem. Ao falhar, refletíamos, ajustávamos o nosso comportamento e emergíamos mais fortes e mais sábios. No entanto, parece que este ciclo vital está a ser nos dias de hoje quebrado. O que antes nos ajudava a crescer agora nos paralisia com medo de falhar.
A verdadeira força não está na ausência de erros, mas na capacidade de aprender e crescer com eles
As redes sociais e a cultura de vigilância constante são grandes responsáveis por esta mudança. Hoje, cada deslize pode ser amplificado e transformado num evento global, levando a julgamentos rápidos e, muitas vezes, injustos. A internet não esquece, e um erro pode seguir uma pessoa por anos, destruindo carreiras e reputações em segundos. Essa constante necessidade de se apresentar impecável em todas as esferas da vida cria um ambiente sufocante, onde a autenticidade e a vulnerabilidade são substituídas pela perfeição forçada.
Este fenómeno é especialmente prejudicial para as gerações mais jovens, que crescem sob o olhar constante da sociedade digital. A pressão para não errar impede-os de experimentar, de arriscar, de aprender. Em vez de explorar o mundo com curiosidade e abertura, muitos jovens sentem-se forçados a seguir caminhos seguros e conformistas, com medo das repercussões de qualquer passo em falso.
No entanto, é fundamental lembrar que ser humano é, por definição, imperfeito. Os erros são uma parte inevitável e necessária da nossa existência. Eles moldam-nos, ensinam-nos e, acima de tudo, lembram-nos da nossa humanidade. Ao remover o espaço para o erro, estamos a desumanizar as nossas experiências, tornando-nos mais rígidos, menos empáticos e menos resilientes.
Precisamos urgentemente de resgatar a ideia de que errar é humano e que os erros não devem ser vistos como falhas inaceitáveis, mas como parte do processo de crescimento. É necessário criar uma cultura onde a aprendizagem através do erro seja valorizada e onde as pessoas sejam encorajadas a admitir os seus erros sem medo de repercussões devastadoras. Só assim poderemos voltar a ser uma sociedade onde as pessoas se sentem livres para ser elas mesmas, com todas as suas imperfeições.
Os erros devem voltar a ser uma fonte de crescimento e não um motivo de vergonha. Devemos lembrar-nos que a verdadeira força não está na ausência de erros, mas na capacidade de aprender e crescer com eles.
É fundamental que voltemos a valorizar o erro como parte integrante da experiência humana. Precisamos de criar ambientes – nas nossas escolas, nos nossos locais de trabalho e nas nossas interações diárias – onde as pessoas se sintam seguras para errar, aprender e tentar de novo. Só assim poderemos fomentar uma sociedade mais criativa, inovadora e, acima de tudo, mais humana.
Ser humano é errar. E é através dos nossos erros que crescemos, que nos conectamos uns com os outros e que aprendemos a viver de forma mais plena. Os erros não nos devem definir, mas sim servir como degraus no caminho do nosso desenvolvimento. No final, são os nossos erros que nos tornam verdadeiramente humanos, e a capacidade de os superar é o que nos torna melhores.
Leia também: Português do Brasil vai deixar de existir em breve. Conheça os motivos