A secção de opinião de um jornal é, por excelência, o espaço da pluralidade: ali se cruzam vozes, se mede o clima social e se confrontam ideias. É o território da polis, onde o contraditório se torna visível. Contudo, em vários jornais, começam a surgir textos classificados como “opinião” que pouco mais são do que exposições de iniciativas ou relatórios institucionais — muitas vezes oriundos de organismos internacionais. Esta prática, subtil mas crescente, gera uma confusão de géneros que importa discutir.

Jurista
Quando os jornais confundem géneros, o leitor perde o direito de saber se está a ser informado ou persuadido
O problema da ambiguidade
• Notícia vs. Opinião: A notícia informa, a opinião interpreta. Quando confundimos os géneros, esvaziamos ambos.
• Divulgação institucional: Muitos textos publicados como “opinião” limitam-se a reproduzir relatórios ou iniciativas oficiais, sem juízo crítico.
• Efeito editorial: O espaço que deveria ser plural e contraditório transforma-se em canal de divulgação, mascarado de reflexão.
O risco democrático
• Neutralização do contraditório: A crítica desaparece, substituída por uma voz única que legitima políticas institucionais.
• Doutrinação subtil: O leitor é levado a acreditar que consome opinião, quando na verdade lê propaganda informativa.
• Esvaziamento da polis: O jornal abdica da sua função de arena de debate e torna-se veículo de legitimação.
O que está em causa
Esta crítica não visa instituições — nacionais, europeias ou internacionais — que naturalmente produzem informação relevante e necessária ao debate público. O que está em causa é a forma como os jornais enquadram essa informação. Cabe às redações assegurar que cada texto aparece no espaço que lhe corresponde, de forma clara e transparente. Misturar géneros enfraquece o jornalismo e prejudica quem dele depende para compreender o mundo.















