Ninguém adivinha o futuro, o passado já foi e está fixo. Quando era jovem pensava muitas vezes no futuro sabendo que não o vislumbrava. ‘O que serei eu daqui a 30 anos?’, ‘onde estarei quando tiver 50 anos?’. Creio que todos/as os/as jovens terão estes pensamentos e desejos infrutíferos de antevisão.
Hoje já sei o que fui e o que sou. O tempo explica muitas coisas.
As dúvidas não acabaram. O que seria eu se não tivesse existido um ditador e sua equipa durante meio século? Talvez engenheiro, escritor, cientista ou pescador? O que teria sido se não tivesse saído da escola devido à pobreza? Onde teria chegado se outros ventos soprassem? Só sei que não teria ido a nenhuma guerra.
As ditaduras desviam os caminhos aos caminheiros apesar de só quererem caminhar!
Continuamos hoje a ler os desmentidos daqueles que passam a vida a mentir. Defendem e garantem os seus interesses pessoais, queimam a floresta para serem o farol no deserto que criam, são os arautos da pátria que trazem no bolso, conseguem despir os nus. Atrás de frases socialmente lindas estão cenários obscuros elaborados por técnicos qualificados, mentores, visionários apodrecidos, cultivadores do politicamente correcto ao lado de pastores das ovelhas amansadas por religiões construídas pelos guardiães da riqueza. O Povo só quer caminhar, mas não sabe nem o deixam!
O que teria sido eu se me tivessem deixado caminhar? Que país seríamos?
O Ensino anda enxovalhado e a educação pelas ruas da amargura, mas os políticos andam felizes e contentes com o resultado da sua actuação no papel de santos cordeiros protegidos pelo santo deus Dinheiro.
Uma coisa eu sei, os meus pais e avós não teriam sido analfabetos, mas sê-lo-ão aqueles que nasceram ontem porque a brisa que trespassa a sociedade é a mesma do século passado.
O que teria sido eu se tivesse ‘nascido ensinado’? Onde estaria hoje? Por onde andariam a miséria física, intelectual e moral que serpenteiam em redor da minha vida? O que seria eu se no dicionário não existisse a palavra ‘privilégio’? Não me queixo de o dinheiro ter pernas, apenas me queixo dos açudes no percurso que fiz. A vida é como a bola, rebola para um lado e para o outro e recebe pontapés sem esperar.
A minha caneta é uma arma e “não há machado que corte a raiz ao pensamento”. Há muitos “eu” por este país fora por causa da insensatez e da ganância.
Se conhecêssemos o futuro a vida não tinha adrenalina, a qual pode e deve ser menos forçada.
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