Antes do 25 Abril havia duas vias de ensino. Por um lado, ensinava-se profissões para a classe operária, por outro ensinava-se para haver uma classe dirigente da nação. Não havia intercomunicabilidade entre elas. Na primeira não se ensinava política que era para os operários não perceberem quem os governava, na segunda havia a célebre OPAN – Organização Politica e Administrativa da Nação – que, ao contrário do que era pretendido, ajudava a criar opositores ao regime. O objectivo do regime era manter a população iliterada para não saber criar problemas à classe dirigente.
Hoje o objectivo é, na sua essência, o mesmo, mas de uma forma mais sofisticada. Abre-se a porta da escola para todos, e muito bem, mas não se mexe nos currículos das áreas disciplinares. Um aluno que saia da escola com o nono ano, e que tenha aprendido as matérias curriculares, sabe quem foram os australopitecos, o homem de cro-magnon e o homem sapiens, até parece que conviveu com eles, mas não percebe nada de eleições, de partidos políticos, da estrutura da sociedade, da estrutura do Poder, de blocos económicos, políticos, militares, da estrutura do comércio internacional e as dependências por ele criadas, assim como não sabe interpretar um texto político. Mas é com estes vectores que ele vai conviver toda a sua vida. A escola ideal não existe, mas a que existe deve ensinar o suficiente e necessário para o individuo e para a sociedade.
Recordo-me de ver, fixados nas paredes do salão da Casa do Povo de Luz de Tavira, azulejos com frases de Salazar, um dizia: “se soubesses o que custa governar preferias ser mandado toda a vida”, era este o objectivo, hoje mantém-se, só mudaram as moscas, o modo e o tempo.
Há que repensar sobre que áreas curriculares e com que intensidade horária/semanal, bem como as matérias de cada currículo disciplinar, coordenando as matérias essenciais ao longo dos 12 anos de estudo e com a faculdade. Tem que haver a coragem de retirar as matérias desnecessárias em cada disciplina, independentemente das opiniões ocasionais por muito coerentes que possam parecer.
Por vezes vejo discussões sobre os trabalhos de casa, é um falso problema porque se os currículos das disciplinas estiverem bem estruturados não são necessários TPCs, há tempo para aprender e socializar.
O ano lectivo não poder ser visto a metro com professores descartáveis que satisfaçam o critério da quantidade, mas não da qualidade.
A iliteracia funcional é abundante e se não houver a coragem política de fazer alterações, continuaremos a formar uma elite ‘que sabe