Parte da importância do professor resulta de que ele actua sobre aquela fragilidade da natureza humana pela qual todos tendemos a instalar-nos num estojo de facilidade e conforto.
A verdade é que há em nós capacidades em potência que nunca chegariam a concretizar-se se as circunstâncias ou outras pessoas não nos “forçassem” a isso…
Podemos, cada um de nós, atingir uma envergadura, uma dimensão, provavelmente muito superior àquela que consideramos razoável. Mas fugimos disso, porque nos dá trabalho alcançá-la.
Temos dons, cada um os seus, que deviam ser desenvolvidos até se tornarem realmente úteis. Devíamos treinar a vontade e os músculos, porque eles necessitam de exercício para se tornarem mais fortes. Temos tendência para mentir nas dificuldades, mas um homem íntegro não mente; e todos devíamos ser íntegros, chegando a esse ponto por meio de uma sucessão de esforços. Podíamos fazer as coisas mais bem feitas, ser mais exigentes connosco mesmos.
Somos, de certo modo, como um elástico, porque podemos dar mais de nós. Mas como um elástico que depois de ser esticado mantivesse as novas dimensões, entretanto adquiridas. Porque os nossos esforços dão em nós resultados que permanecem.
Nas crianças e nos jovens, o nível de exigência marca o resto da existência. Também os automóveis antigos precisavam de fazer uma rodagem: deviam ser “esticados”, circular durante algum tempo a velocidades razoavelmente altas, porque, se nesse período os conduzíssemos apenas a baixas velocidades, não seriam mais tarde capazes de circular depressa.
Se considerarmos que uma característica importante de um bom amigo é que ele nos ajuda a chegarmos aonde devemos chegar, mesmo que não nos apeteça, então os bons professores são grandes amigos dos seus alunos. Eles puxam o elástico sempre um pouco mais, sem magoar muito, com delicadeza.
São amigos com uma amizade tão pura, tão desinteressada, que não se importam com que ela só seja reconhecida muito mais tarde, ou mesmo nunca.
No passado do poeta que escreveu versos sublimes, há quase de certeza um professor que o obrigou a exercitar-se na sintaxe, que o forçou a corrigir vezes sem conta frases mal escritas, que ralhou com ele quando se desleixava. Na juventude daquele que escreveu uma bela sinfonia houve muito possivelmente uma professora, talvez já velhota, que lhe explicou cem vezes, pacientemente, qual era a forma correcta de colocar as mãos quando se sentava ao piano.
O poeta e o músico tiveram os seus nomes escritos na História, mas ninguém recorda quem foram os seus mestres. No entanto, há uma beleza imensa nesse passar despercebido, nesse rasgar as mãos ao trabalhar nos escuros alicerces de um mundo melhor.