O jogo Benfica-Sporting já ia avançado no tempo quando se lembraram dele.
– Não! Sabem que a televisão não se liga enquanto jantamos!
Ainda tentei reclamar, mas de nada serviu. Carregaram no botão do comando e, num segundo, a magia que sempre paira sobre os nossos jantarinhos, desvaneceu-se sem dó.
Luzes quentes e indiretas, uma boa playlist a tocar e todos sentados à mesa, só focados uns nos outros. Tão simples!
A comida acaba por ser um mero complemento ao que verdadeiramente nos nutre: a companhia uns dos outros. Apercebi-me melhor disso há uns dias quando, mais de meia hora depois de terminado o jantar, continuávamos os quatro sentados à mesa, a estender no tempo algo que apenas se confeciona no lume brando de muitos anos: a cumplicidade feliz.
– Tenho um trabalho para acabar… mas está-me a saber tão bem estar aqui…
Nesse instante apercebi-me ainda mais conscientemente da imensa fortuna que temos, os quatro. Senti de maneira quase palpável os benefícios que o culto do jantarinho nos traz enquanto família e enquanto indivíduos. E orgulhei-me tremendamente dos super poderes com que todos os jantarinhos nos fadam: ficamos mais fortes, nutridos, unidos, felizes e serenos. Ao sair desse maravilhoso limbo, ficamos prontos para tudo… e voltamos às nossas vidas com um brilho que se nos vê.
(CM)