Sem me querer alongar, recordo ao leitor que as expectativas dos utentes de saúde e dos doentes têm vindo a mudar radicalmente de natureza e de representação nas últimas décadas devido a um conjunto de factores: confronto do SNS com a população altamente envelhecida que exige um novo olhar sobre a sustentabilidade financeira e justifica uma maior delegação no indivíduo da responsabilidade de monitorização do seu estado de saúde; o interesse pela literacia e educação em saúde graças às potencialidades da internet para tornar a informação mais acessível a todos, o que veio a implicar a procura de influência por parte dos departamentos de saúde, laboratórios farmacêuticos, profissionais de saúde e suas ordens e, naturalmente, as associações de doentes.
A fibromialgia é um bom exemplo de como a educação do doente traz todos os níveis de proveito. Por exemplo, a procura de alívio, ficando acamado, na esperança que as dores aliviem ou desapareçam é, segundo os médicos, a opção mais errada. O tratamento da fibromialgia tem tudo a ganhar quando o doente obtém conhecimento acerca da doença, pratica exercício físico, aprende a aplicar técnica cognitivo-comportamentais e, de um modo geral, cuida de adoptar estilos de vida saudáveis, apesar dos condicionalismos da doença.
A fibromialgia não deforma as articulações, não compromete órgãos internos (caso dos rins ou pulmões), não necessita de intervenções cirúrgicas. Causa é um sofrimento atroz, pode provocar uma extrema confusão na cabeça do doente, pode até crer que anda para ali alguma maluqueira, daí a necessidade de ter um médico experiente, ter acesso a sessões de ensino e reuniões de grupos de discussão, juntar-se à vida associativa dos doentes com fibromialgia. E educar-se, saber que a prática regular de exercício físico reduz a intensidade da dor e da fadiga, actividade que exige programa apropriado, obedecer a certos princípios, incluir exercícios para fortalecer os músculos, para aumentar a capacidade aeróbica (resistência ao esforço) e para melhorar a flexibilidade.
Um reumatologista escreveu um manual prático publicado pela MYOS que refere especificamente os benefícios do fortalecimento muscular, da actividade aeróbica, da flexibilização muscular e das técnicas cognitivo-comportamentais. Há os fármacos, caso dos anti-inflamatórios, dos relaxantes musculares, dos antidepressivos, só um médico os deve prescrever, não há medicamentos inofensivos e cada doente é um caso, o que quer dizer que haverá situações em que o médico poderá optar por uma ou até mais categorias destes medicamentos. Há o caso do tratamento dos síndromas miofasciais que pode exigir uma injecção desses pontos com um anestésico local. Mas há outros aspectos a ter em conta, como seja o tratamento da fadiga ou o tratamento das alterações do sono.
Quando o doente se questiona qual o médico que deve consultar, a resposta é dada pelo autor do manual: “É consensual que o médico assistente do doente deve ter uma ampla experiência em doenças sistémicas, estar habituado a diagnosticar e tratar eficazmente as doenças ósseas, musculares e articulares. O reumatologista reúne as melhores condições para se assumir como o médico assistente dos doentes com fibromialgia”.