Há quem apresente os bestsellersde James Rollins como histórias bem engendradas onde se misturam exclusivamente História, Ciência e aventuras mirabolantes, claro está que o mal sairá sempre punido. Mas, bem vistas as coisas, outros autores, caso de Clive Cussler e a sua empresa construtora de histórias, fazem o mesmo, tudo parte de um facto histórico singularíssimo, um documento que anda extraviado, uma arma nuclear que está no fundo dos mares, uma civilização perdida no Amazonas dotada de poderes sobrenaturais, e por aqui me fico, só para dizer que a seguir se monta uma trama que mantém o leitor preso até ao fim, trata-se de literatura de entretenimento em que a qualidade se define pelo insólito da história, pela natureza dos heroísmos e a façanha que leva os agentes demoníacos ao castigo mais do que merecido. E chegamos ao cerne desta obra, O Último Oráculo, por James Rollins, Bertrand Editora, 2020. O leitor que se prepare, vai entrar numa trepidação sem pausas. Atenda-se ao que se escreve na contracapa para se entender o preâmbulo acima:
“Em Washington, D.C., um sem-abrigo morre nos braços do comandante Gray Pierce, atingido pela bala de um assassino, mas a morte deixa para trás um mistério ainda maior: uma moeda ensanguentada encontrada junto do morto, uma relíquia antiga relacionado com o oráculo grego de Delfos. Enquanto seguidores implacáveis procuram o artefacto roubado, Gray Pierce descobre que a moeda é a chave para desvendar uma conspiração que remonta à Guerra Fria e ameaça os próprios alicerces da humanidade. Desde os tempos da Grécia Antiga aos mausoléus mais deslumbrantes, dos bairros pobres da Índia às ruínas radioativas da Rússia, dois homens têm de correr contra o tempo para resolver um mistério que remonta ao primeiro grande oráculo da História – o oráculo grego de Delfos. Mas uma questão permanece: será o passado suficiente para salvar o futuro?”. E assim começa, se desenvolve e desfecha uma trama alucinante, com cientistas sem escrúpulos que lançaram um projeto de bioengenharia capaz de conduzir a humanidade à extinção.
O projeto macabro liderado por cientistas loucos e políticos satânicos é considerado como algo capaz de mudar o curso da história da humanidade. Seremos confrontados, ao longo de quinhentas páginas, com experiências laboratoriais com crianças autistas que, viremos a descobrir, vieram da Grécia, foram instaladas num vale da Índia e deram origem a comunidades ciganas. Tudo começará nesta obra com os romanos a destruírem o oráculo de Delfo, no século IV d.C., descobrir-se-á que em plena Guerra Fria havia um pacto científico entre a URSS e os EUA, os factos desencadeiam-se em Washington, sabe-se que em 5 de setembro culminarão dois depois, a um ritmo trepidante, como é bem próprio do desenho destes bestsellers, recorde-se a vertigem em que vivem os protagonistas no Código da Vinci, de Dan Brown. A partir do momento em que o dito sem-abrigo lhe cai nos braços, o comandante Gray Pierce vai estar envolvido neste puzzle onde há bioengenharia, a demanda de mentes geniais para a liderança mundial, espionagem de várias proveniências, um plano monstruoso para liquidar em Chernobyl os maiores dirigentes, a começar pelo norte-americano e o russo, vão aparecendo em chusma agentes policiais, cientistas, forças militares, ciganos, crianças escolhidas para a liderança mundial e outras condenadas ao morticínio. Para apimentar este naco de literatura de entretenimento, o autor, no final da obra comenta os ingredientes utilizados. Sobre o oráculo grego de Delfo afirma, sabe-se lá com que convicção, que as profecias do oráculo foram fundamentais na mudança do curso da civilização ocidental.
Penso que é por delírio, o leitor que se acautele e não dê asas à imaginação. Diz que os Jasons é uma verdadeira organização de cientistas, acredite quem puder, o projeto Stargate foi um programa verdadeiro financiado pela CIA, não percebemos bem que êxitos teve; fala-se muito no decurso da obra de manipulação cerebral, há muita gente no decurso da correria em que se vive neste romance que tem tempo e paz de espírito para falar da estimulação magnética transcraniana e de outras explorações sobre o mistério do cérebro humano. E igualmente acredite quem quiser que há laureados com o Prémio Nobel que dizem que é possível antever o futuro e o autor escreve placidamente: “As experiências efetuadas junto de jogadores e soldados descritas neste livro são reais e foram repetidas em universidades de todo o mundo. Segundo esses distintos investigadores, parece que somos capazes de antever o futuro em três segundos (…)”. Também se fala da Índia e dos ciganos, do legado radioativo da Rússia e de armas estranhas como as chamas sónicas, venenos radioativos, espadas-chicote, espingardas que disparam balas Taser, até de um telemóvel que se pode converter numa arma, são apresentadas como reais. Como um dos fulcros da obra passa por crianças autistas que são disputadas por políticos megalómanos e cientistas loucos, o autor também nos contempla com a explicação que é o síndrome sábio autista, dizendo que a causa do autismo ainda é desconhecida e dá-nos uma lista de figuras históricas famosas que terão exibido um certo nível de tendências autistas, onde inclui, entre outros, Beethoven, Edison, Mozart, Nietzsche , Miguel Ângelo.
O importante é que os apreciadores desta chamada literatura de verão têm em O Último Oráculo, de James Rollins, um confeito muito bem elaborado, a despeito de toda e qualquer inverosimilhança traga-se bem esta patifaria de um projeto de bioengenharia capaz de conduzir a humanidade a um processo de eugenia que nem esteve na cabeça de um Adolfo Hitler.
O Último Oráculo, uma trama em que se monta um projeto que sujeitaria a humanidade ao comando de um profeta paranoico, é um bem-vindo romance de aventura e ação, ao melhor nível dos seus aficionados.