Uma Porta Estreita é o novo romance de Joanne Harris, autora publicada pelas Edições ASA, mais conhecida pelo romance Chocolate. Com tradução de Ana Saldanha, este livro integra (e possivelmente encerra) uma série de romances cuja ação decorre no Colégio de St. Oswald, como Xeque ao Rei e Uma Questão de Classe. A ação dos vários livros (ainda que publicados com anos de intervalo) decorre de forma contínua, como se cada livro correspondesse a um ano letivo.
Aqui voltamos a percorrer os corredores deste outrora colégio de rapazes, que tem agora uma reitora e turmas mistas, e reencontramos o divertido professor Roy Straitley, um classicista que figura como «um velho Rei solitário no tabuleiro de xadrez», um dinossauro de um método mais tradicional que é, ainda assim, estimado pelos alunos. A prosa, imbuída de mistério, agarra-nos desde as primeiras frases, como é habitual nesta autora.
Esta é uma narrativa contada a duas vozes, alternando entre a perspetiva da reitora e de Straitley. Rebecca Buckfast, que derramou sangue, suor e lágrimas para conseguir alcançar a chefia do liceu, e agora, aos 43 anos, está finalmente a colher os frutos da sua ambição. Mas tem um potente inimigo a defrontar: a velha guarda, encabeçada pelo temível e quixotesco professor de Latim, Roy Straitley. Além disso o lugar de Rebecca corre sério perigo quando, no primeiro dia de aulas, Roy encontra um corpo no terreno do liceu.
Rebecca Buckfast assume as rédeas da narrativa, pois é ela quem se predispõe a contar a Roy a história do desaparecimento do irmão, há 35 anos, mantendo-o cativo do seu enfeitiçamento – como quem volta à vida, ao mesmo que ela a refaz –, tal qual uma Xerazade moderna, ao mesmo tempo que nos mantém a nós prisioneiros da sua palavra.
É um romance de suspense psicológico surpreendente, mas que corre o risco de cansar um leitor mais ansioso por chegar ao fim (são cerca de 450 páginas, ainda que os capítulos sejam breves). A ação desenrola-se num ritmo constante, mas espaçado, como se a autora saboreasse o doseamento certo do mistério que se adensa. E para acentuar o enigma torna-se cada vez mais claro que Rebecca Buckfast é uma narradora pouco credível, a quem a memória tem criado ilusões que vão sendo desmontadas gradualmente, até chegarmos a um final que pode ser uma tremenda reviravolta –um leitor atento pode desvendar as pistas.
Joanne Harris nasceu no Yorkshire, de mãe francesa e pai inglês. Estudou Línguas Modernas e Medievais em Cambridge e foi professora durante quinze anos. A sua obra está atualmente publicada em quarenta países e foi galardoada com inúmeros prémios literários internacionais. Todos os seus livros integram o catálogo da ASA e já venderam mais de 600 mil exemplares no nosso país.