O Coração Pensante – Ensaios sobre Israel e a Palestina, de David Grossman, publicado pela Dom Quixote no final de 2024, tem tradução de Lúcia Liba Mucznik.
David Grossman, romancista israelita multipremiado, passou décadas a fazer campanha pela paz em Israel e na Palestina. Mas, depois de 7 de outubro de 2023, sente a necessidade de se retirar, de se virar para dentro de si próprio, e reflectir sobre o dia que assinalou a maior perda de vidas de judeus do corrente século.
Este livro resulta da junção de doze ensaios, se considerarmos o Prólogo, todos eles reflexões acerca das questões difíceis e delicadas que a sua amada nação enfrenta. Apenas um dos ensaios é menos centrado na luta que está a ser travada em ambos os lados, onde nenhum Estado é completamente inocente mas quem paga são justamente os mais inocentes.
O escritor considera aqui como mesmo após 75 anos de independência, Israel ainda não tem as suas fronteiras aceites e fixas, o modo como os outros Estados continuam a discriminar o direito de Israel à terra
O último texto é também um poema, que se afigura dedicado a um filho – ressalve-se que o filho do autor morreu justamente em combate, na guerra entre Israel e o Hezbollah em 2006. Note-se que alguns ensaios são anteriores ao actual conflito e traçam, por exemplo, um diagnóstico da “crise existencial” que Israel enfrenta(va) a 25 de Março de 2023, com os actos do primeiro-ministro Netanyahu que encaminha o país para uma ditadura…
O escritor considera aqui como mesmo após 75 anos de independência, Israel ainda não tem as suas fronteiras aceites e fixas, o modo como os outros Estados continuam a discriminar o direito de Israel à terra, país que o autor ainda não sente como um lar mas sim como uma fortaleza, muito pouco inexpugnável, como se confirmou a 7 de outubro… Paradoxalmente o autor reflecte também como o seu estado-nação tem de aprender agora que já não vive como uma minoria, enquanto se impõe justamente a outras minorias que ali vivem, além da indiferença – segundo o autor – da maioria dos israelitas face à ocupação da terra do povo palestiniano. Um território que vive em luta há centenas de anos, com Israel e o Hamas presos num “círculo vicioso de morte” (p. 26) e onde, como prenuncia o autor no primeiro ensaio, datado de 2021, seria infalivelmente inevitável voltar a assistir à explosão de uma “vaga assassina” (p. 29) …
Uma escrita lúcida, sem floreados, incisiva, nem sempre desesperançada…
David Grossman nasceu em Jerusalém e é um dos maiores escritores do nosso tempo. É autor de uma extensa obra que está publicada em mais de trinta línguas.
Recebeu numerosos prémios, incluindo o francês Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, o Buxtehuder Bulle na Alemanha, o Prémio de Roma pela Paz e pela Ação Humanitária, o Prémio Ischia Internacional de Jornalismo, o Prémio Emet de Israel, o Prémio da Paz dos Editores e Livreiros Alemães e o Prémio Albatross da Fundação Günter Grass.
Em 2018, foi-lhe atribuído o prestigiado Prémio Israel de Literatura.
O seu romance Até ao Fim da Terra foi distinguido com o Prémio Médicis Estrangeiro, o National Jewish Book Award, o Prémio JQ Wingate e foi ainda considerado o melhor livro de 2011 pela revista Lire.
Em 2017, Um Cavalo Entra num Bar recebeu o Prémio Man Booker Internacional.
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