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Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
Less Perdeu-se é o regresso da carismática personagem criada por Andrew Sean Greer. Cinco anos depois da publicação de Less, o primeiro livro da série, vencedor do Prémio Pulitzer 2018, chega agora Less Perdeu-se, publicado pela Quetzal e novamente com tradução de Vasco Teles de Menezes.
Arthur Less, um anti-herói desajeitado e adorável, continua a colecionar peripécias, umas pela sua natureza claramente aérea, outras porque esta personagem é de uma natureza tão singular, e de boa índole, que parece atrair a si tudo o que de mais mirabolante pode acontecer. Ao ponto de subitamente já não termos apenas um Arthur Less, mas uma série deles, conforme o protagonista continua a ser confundido ora com um holandês, ora com um outro autor (ainda que negro) e é inclusive acusado de ser um mau gay – ainda que se tenda a rotular a sua escrita como gay, será que ele é suficientemente gay para justificar essa etiquetagem?
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Arthur Less está agora na meia-idade, e parece ter entrado confortavelmente nessa nova etapa da vida. Vive um quotidiano estável e tem uma relação satisfatória – é o seu companheiro que se assume como narrador deste livro. Tudo parece bem, até que a morte do seu antigo amante, também ele escritor, um homem mais velho, o leva a fazer uma viagem pela América profunda numa auto-caravana.
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Um périplo de peripécias, narradas com uma inteligência fina, cheia de humor e ironia, permitindo tratar assuntos sensíveis e dolorosos com leveza e perspicácia.
“Less olha em redor. (…) O bar é uma caricatura de si próprio, mas a verdade é que, com o seu fato cinzento todo elegante, Arthur Less também o é. Também o somos todos.” (p. 84)
Nestes dois livros, lessiano torna-se mesmo um adjectivo, que pode e deve ser usado com pleno direito.
Andrew Sean Greer é um escritor galardoado com o Prémio Pulitzer (Less, Quetzal 2019) e autor de seis romances. Foi professor de escrita criativa em várias universidades americanas, bolseiro do New York Public Library Cullman Center e membro do júri do National Book Award. Vive em São Francisco.
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