Despedidas Impossíveis, de Han Kang, é o mais recente romance da autora sul-coreana vencedora do Nobel de Literatura em 2024, e publicado no original ainda em 2023, antes do anúncio do prémio. Foi ainda vencedor do Prémio Médicis 2023, ex-aequo com a tradução de Misericórdia, de Lídia Jorge – as autoras na altura encontraram-se.
O romance tem tradução de Maria do Carmo Figueira e Ana Saragoça a partir da edição inglesa, por sua vez traduzida por e.yaewon & Paige Aniyah Morris.
Logo de início evoca a aura misteriosa e existencialista de A Vegetariana. Uma mulher que parece querer desistir da vida, por razões que não se clarificam – a não ser, talvez, o peso da escrita que lhe suga a vida… Simultaneamente, a neve, a lembrar O Livro Branco, é omnipresente – talvez metáfora do degelo a acontecer, da ressurreição, do silêncio. Acresce ainda que esta escritora, que lentamente parece fazer por voltar à vida, tenta recuperar de um livro recentemente escrito, e prestes a ser publicado, que trata de atos cruéis, como assassínios em massa e tortura – o que nos pode remeter para outro livro ainda da autora, Atos Humanos.
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Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
Uma narrativa fantasmática, misteriosa, que nos deixa, por vezes, na dúvida se as personagens estão ainda neste plano físico ou se se cruzam numa outra dimensão…
Numa manhã gelada de Dezembro, Kyungha, uma ex-documentarista, recebe uma mensagem da sua amiga Inseon – internada num hospital de Seul na sequência de um ferimento grave a cortar madeira – pedindo-lhe que a visite urgentemente.
As duas conheceram-se aos vinte e quatro anos, e Kyungha, a narradora, sempre a sentiu como uma irmã mais velha.
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Uma narrativa fantasmática, misteriosa, que nos deixa, por vezes, na dúvida se as personagens estão ainda neste plano físico ou se se cruzam numa outra dimensão… Dimensão essa, quase feérica, onde segredos enterrados há muito ressurgem, sobre centenas de milhares de pessoas desaparecidas e mortas, quando em 1948 se institui o primeiro governo no país.
Han Kang nasceu em Gwangju, na Coreia do Sul.
Em 1994 começou a sua carreira de escritora vencendo o primeiro lugar de um concurso literário em Seul.
A Vegetariana (2016), o seu primeiro romance publicado pela Dom Quixote, ganhou o Man Booker International Prize em 2016.
Atos Humanos (2017) venceu o Prémio Manhae na Coreia do Sul e o Prémio Malaparte em Itália.
A obra seguinte, O Livro Branco (2019), foi finalista do Man Booker International Prize 2018.
Publicou ainda o romance Lições de Grego (2023) e, em 2025, Despedidas Impossíveis, que venceu na edição francesa o Prémio Médicis 2023, na categoria de romance estrangeiro.
Han Kang recebeu igualmente os prémios literários Yi Sang, Jovens Criadores, Melhor Romance da Coreia, Hwang Sun-won e Dongri.
Foi galardoada com o Prémio Nobel de Literatura em 2024, «pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana».
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