Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo, de Benjamin Alire Saenz, publicado pela Editorial Presença, com tradução de Inês Guerreiro, não é uma novidade literária, mas foi preciso ser lançado um filme para me despertar a curiosidade.
O título pode despistar um leitor mais incauto, se bem que, ao seu jeito, este não deixa de ser um livro sobre descoberta e maravilhamento. Um romance da categoria de Jovem Adulto ou Romance Jovem Adulto, distinguido com o prémio Pen/Faulkner, e que se tornou um livro de culto sobre família, amizade e primeiro amor. Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo recebeu o Stonewall Book Award, entre outros prémios e distinções.
Aristóteles e Dante é mesmo o nome dos dois jovens protagonistas. Aristóteles é um jovem de 15 anos, por isso o seu estado natural é o aborrecimento e um certo tédio existencial, além de que todos sabemos que ser um adolescente é «duro e doloroso e confuso» (p. 234)
Um jovem que, ainda por cima, foi educado a não ver televisão. Estamos nos anos 80. E naquela tarde de Verão em que Ari adormece com a esperança de, ao acordar, encontrar o mundo mudado, acaba por tentar combater a sua lassidão de adolescente entediado com uma ida à piscina. É então que alguém, com uma voz estranhamente esganiçada e congestionada (das alergias), lhe pergunta se ele quer aprender a nadar. Quando conhece Dante, Ari sente um primeiro impulso de o afastar, encerrando-se no seu casulo protector, habituado a ser posto de parte pelos colegas (na verdade, é ele quem se coloca primeiro de parte). Mas gradualmente, ao longo das aulas de natação e noutros tempos partilhados, Ari e Dante descobrem que são almas afim, estranhamente unidos pelas suas naturezas de espíritos solitários. Além disso são ambos de ascendência mexicana, ainda que se sintam já distantes das suas raízes. E o humor é uma constante entre eles.
Apesar das suas diferenças e dos seus feitios tão peculiares (Ari é ensimesmado, enquanto Dante fala pelos cabelos; Ari duvida muito de si próprio, enquanto Dante é um apaixonado por poesia, literatura, e arte), e de provirem de famílias tão distintas (a de Dante é mais naturalmente afectuosa, enquanto que na casa de Ari impera um proibitivo silêncio por causa de um terrível segredo), estes dois rapazes criam um laço especial de amizade inquebrável – e passam por uma série de pequenas tragédias.
Dante consegue transpor o muro de Ari, e subtilmente começa a fender as suas defesas. Entretanto, sendo Ari o narrador deste livro, na primeira pessoa, é impressionante a forma como nos deixa a nós, leitores, numa constante incerteza em relação ao que ele realmente sente e pensa, especialmente quando Dante decide que prefere beijar rapazes a raparigas.
A prosa, embora condizente a um jovem público leitor, nada tem de ligeira. Especialmente na forma telegráfica e intensamente contida como Ari nos narra o que lhe vai na cabeça.
Benjamin Alire Saenz é um autor multipremiado de livros para adultos, adolescentes e crianças. Nasceu em 1954, no Novo México, Estados Unidos. Dirige o departamento de Escrita Criativa da Universidade do Texas, em El Paso. O seu primeiro livro de poemas, Calendar of Dust, ganhou o American Book Award em 1992. À publicação do livro Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo seguiu-se ainda um segundo volume: Aristóteles e Dante Mergulham nas Águas do Mundo.
Leia também: Leitura da Semana: Um menino na praia, de Luciano Lozano | Por Paulo Serra