Apolo, com tradução de Maria de Fátima Carmo, é um dos mais recentes títulos a integrar a coleção «A Sabedoria dos Mitos» publicada pela Gradiva, concebida e escrita por Luc Ferry, com ilustrações de Clotilde Bruneau. Esta série dedicada à mitologia grega, integra ainda outros títulos como Atena (publicado também este ano), O Nascimento dos Deuses, Édipo, As Desventuras do Rei Midas, ou Prometeu e a Caixa de Pandora.
Mais do que outro título de banda desenhada, de uma editora que tem apostado fortemente em livros gráficos, este é um magnifico álbum ilustrado destinado especialmente aos mais jovens. Um livro vivo, com imagens plenas de cor e movimento, que explica, em diferentes episódios, a figura de Apolo – um dos principais deuses do panteão grego; pelo menos, um cujo nome se tornou comum até aos nossos dias. Ainda hoje, em linguagem corrente, pode-se dizer de um jovem efebo que é “um apolo”, para designar a sua incomparável beleza. O Apolo das ilustrações é verdadeiramente belo, com um corpo cinzelado (permanentemente aparece-nos aqui quase despido), não obstante as suas feições denunciarem uma compleição mais francesa…
Filho de Zeus e Leto, irmão gémeo de Ártemis (que aqui não aparece), Apolo é considerado o mais sedutor dos deuses do Olimpo, e um dos mais cantados nas obras clássicas, encarnando a luz dourada (como a que emana destas ilustrações em torno da sua figura radiantemente bela) assim como as belas-artes, a medicina e a beleza. Apolo percorre o mundo na sua quadriga, acompanhado da lira e do arco. Apesar da sua aparente arrogância e crueldade, Apolo protege o cosmos do caos e procura estabelecer a ordem e a harmonia em todas as coisas e circunstâncias.
Luc Ferry, para a sequência dos episódios aqui desenhados, parece seguir o próprio texto de um hino de Homero, desde a sua entrada, em adulto, no Palácio de Zeus, no Olimpo. Recua-se, logo depois, até antes do nascimento de Apolo em Delos, quando a mãe, a ninfa Leto, intenta várias travessias a nado, acostando a diversas ilhas, onde espera poder dar à luz o filho de Zeus, mas será sistematicamente afastada, por medo da vingança de Hera. Finalmente encontra um porto seguro em Delfos, onde promete que será erigido um templo. Instantes depois do nascimento, o bebé Apolo torna-se instantaneamente num belo homem.
Noutro momento, Zeus oferece-lhe o seu belo carro, puxado por gansos, e Apolo terá de derrotar a temível Píton, uma gigantesca serpente alada, em solo que se tornará sagrado e onde erige o seu templo, onde a sibilina Pitonisa exerce o dom da profecia. Por fim, veremos como Apolo vence com a sua harmoniosa lira o som dissonante da flauta de Pã tocada pelo sátiro Mársias, acabando por o matar.
A confirmar que esta é uma coleção pensada para jovens, a parte final do livro contém textos informativos de Luc Ferry sobre a teogonia grega e as suas repercussões na cultura oricental. Nas últimas páginas do álbum, onde também encontramos representações de Apolo na pintura, Luc Ferry explica-nos num texto tão erudito quanto acessível o simbolismo de que se reveste o episódio final do livro na história da arte e da filosofia; como este duelo deve ser lido enquanto oposição entre a música apolínea e a música dionisíaca, entre a harmonia cósmica de Apolo e o caos de Dioniso.
Luc Ferry é um autor de referência sobre a mitologia grega. Nascido em 1951, filósofo e político francês, foi Ministro da Educação em dois governos sucessivos.