Amamos, porquê?, de Anna Machin, recentemente publicado pela Bertrand, procura responder, em termos científicos, à eterna questão do que é afinal o amor.
Podemos ler, no prólogo, que “o problema do amor (…) é complicado” (p. 11). Por isso, a antropóloga Anna Machin intenta justamente dar uma “resposta expansionista” (p. 12) com fundamento no que as ciências sociais e as ciências da vida nos podem dizer sobre a mais fundamental e menos quantificável das experiências humanas.
Na verdade, essa resposta desdobra-se em dez tentativas ou hipóteses de resposta, mediante dez capítulos distintos, subdivididos em pequenas secções que, não obstante o palavreado por vezes mais técnico-científico, os tornam de fácil leitura. Ao reunir diversas respostas, deixando claro que nenhuma delas está completa ou é a correcta, num estudo que não se cinge ao amor romântico, a autora pretende dar uma ideia da imensidão e grandiosidade do amor humano.
O amor é vital para todos nós e a vinculação do bebé ao progenitor nos seus primeiros dois anos será decisiva – que não ocorre necessariamente apenas com a mãe, mas também com o pai, como a autora aqui demonstra.
Anna Machin não se limita à ideia do amor romântico, ainda mais considerando as mudanças das últimas décadas, em que a sociedade mudou profundamente, e já não se encara que as pessoas tenham de ser “emparelhadas” para serem felizes. A autora considera, portanto, neste livro a importância do amor platónico, espiritual, futurista, assim como a amizade, a família, as relações poliamorosas, os arromânticos, as famílias «escolhidas», o amor homossexual, o amor por animais de estimação, por celebridades e por divindades. A investigadora debruça-se ainda sobre as consequências mais sombrias do amor – a sua natureza viciante que nos leva a ficarmos cegos, a ser manipulados, e até vítimas de violência.
Naquele que se pode considerar um livro de ciência, mas sobretudo sobre um aspeto fundamental da existência e da condição humana, a autora cita estudos e testemunhos reais. Faz ainda uso de várias disciplinas para sustentar os seus argumentos, da genética à farmacologia, da psicologia à neurociência, da teologia à antropologia social, de modo a nos mostrar o poder inspirador da cooperação humana.
Anna Machin é antropóloga evolutiva. Estudou Antropologia na Universidade de Oxford Brookes e na University College de Londres antes de se doutorar na Universidade de Reading em 2006. Depois disso, integrou o Grupo de Investigação em Neurociências Sociais e Evolutivas da Universidade de Oxford. No departamento de Psicologia Experimental da mesma Universidade tem-se dedicado à investigação das ciências por trás das nossas relações mais próximas. Participa regularmente em programas da BBC, da ABC e escreve artigos para The Observer, The Guardian, New Scientist, The Scientist e The New York Times.