A tradução do mundo, de Juan Gabriel Vásquez, autor publicado pela Alfaguara, chega-nos com tradução de Rui Pires Cabral. Esta obra reúne quatro ensaios tão enlevantes quanto claros que nos levam a compreender o poder da ficção no mundo em que vivemos. Os ensaios estão ainda divididos em pequenas secções com subtítulos. O livro é ainda enriquecido por várias ilustrações, também a cores.
Estes textos nasceram de um convite da Universidade de Oxford para que Juan Gabriel Vásquez, um dos maiores romancistas latino-americanos, proferisse as prestigiadas Conferências Weidenfeld, na senda de escritores como Mario Vargas Llosa, George Steiner, Umberto Eco ou Ali Smith. O autor esperou por uma pandemia e um período incerto em que se optava por apostar nos ajuntamentos online, até ter a oportunidade de finalmente poder proferir estas suas comunicações presencialmente.
No primeiro ensaio, Juan Gabriel Vásquez leva-nos do Lazarilho de Tormes até Marcel Proust, passando por Velásquez (sim, o pintor), para demonstrar como a ficção nos permite alargar os horizontes (e, acrescentaria eu, desenvolver a empatia, como se tem vindo a procurar demonstrar cientificamente), a partir do momento em que abrimos os nossos olhos de modo a ver o mundo de outra perspectiva, sob outra pele ou identidade. Vásquez renuncia assim a postura dos que condenam escritores que se arrogam escrever sobre aquilo que supostamente desconhecem, acusando-os taxativamente de “apropriação cultural”.
"Vásquez renuncia a postura dos que condenam escritores que se arrogam escrever sobre aquilo que supostamente desconhecem, acusando-os taxativamente de 'apropriação cultural'"
«Tornarmo-nos homens (ou mulheres) enquanto lemos — em busca de algo similar, temos, pois, recorrido à ficção ao longo dos séculos. É isto que lhe pedimos: a construção do que somos ou queremos se, ou a lenta descoberta de nós próprios através das palavras dos outros.» (p. 44)
O autor, ganhador de prestigiados prémios como o Impac Dublin Literary Award, o Prix du Meilleur Livre Étranger e o Premio Real Academia Española, estará em Portugal de 20 a 23 de outubro.
Juan Gabriel Vásquez nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1973. Estudou Literatura na Sorbonne em Paris e fez de Barcelona a sua casa por mais de uma década. É autor dos romances Os informadores, Historia secreta de Costaguana, O barulho das coisas ao cair (Prémio Alfaguara, English Pen Award, Impac Dublin Literary Award, Premio Gregor von Rezzori-Città di Firenze), As reputações (Prémio da Real Academia Espanhola, Premio Arzobispo Juan de San Clemente, Prémio da Casa da América Latina de Lisboa, finalista dos Prémios Médicis e Femina), Olhar para trás e A forma das ruínas (Prémio Literário Casino da Póvoa/ Correntes d’Escritas, e finalista do Man Booker International Prize). Tem publicados dois volumes de contos: Los amantes de todos los santos e Canciones para el incendio (Premio Biblioteca de Narrativa Colombiana), assim como dois livros de ensaios El arte de la distorsión e Viajes con un mapa en blanco, além de uma breve biografia de Joseph Conrad, El hombre de ninguna parte.
Como tradutor, foi responsável pela tradução de obras de Joseph Conrad, John dos Passos, Victor Hugo e E. M. Forster, entre outros, e escreve regularmente em vários jornais. Os seus livros estão publicados em 30 idiomas e mais de 40 países, com extraordinário êxito da crítica e do público. Venceu por duas vezes o Premio Nacional de Periodismo Simón Bolívar pelo seu trabalho jornalístico.
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