Deslumbrado com a nata do fecundo pensamento conservador do meu país, em “Identidade e Família”, questiono-me como é que, uma instituição tão prestigiada quanto a Universidade Católica, contém mentes tão brilhantes, de pensamentos tão elevados e esclarecidos quantos os do senhor que passo a citar, numa absurda tentativa de acomodação dos ventos da História ao seu ceticismo relativamente às reivindicações das mulheres para a igualdade.
Questionando o seu papel na sociedade, assiste, a esta subida intelectualidade, a estranha convicção de a Mulher ter sido, em momento algum, verdadeiramente oprimida e desprezada. Para aprumo da sua profundidade argumentativa, João César das Neves Glaciares desembainha, assim, este pensamento tão prolífero quanto audaz:
“Esta convicção é estranha por duas razões. A primeira é que as mulheres sempre foram a maioria da população, o que torna insólito que sejam dominadas pela minoria masculina. O segundo motivo é que essas senhoras, alegadamente tiranizadas, nunca se queixavam ou manifestavam o seu desagrado”.
Dispensar-se-ia o ilustre emérito, cujo pensamento o luar tanto acaricia, de acrescentar às suas estranhas convicções, por uma questão de quantofrenia, as de que a mulher nunca terá existido para ser uma mãe extremosa, uma esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar a fazer bacalhau gratinado com batata palha.
Bem vistas as coisas, persistem, na criatura, estranhas e inocentes convicções de que para serem perfeitas, as mulheres nem se obrigariam a ter de ficar a governar a casa, a fazer lavores, a manter a ordem e o asseio do lar, a cuidar da educação dos filhos, numa doce submissão ao marido, apenas podendo sair do país com a sua autorização.
Que pobreza franciscana! E anda este pessoal a tentar fazer-nos naufragar no desprazer da leitura.
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