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Filas de sonhos, publicado pela AKIARA, da autora portuguesa Rita Sineiro, ilustrado por Laia Domènech, é um belíssimo conto sobre a crise dos refugiados, através dos olhos de um menino fechado num campo de acolhimento.
Este livro traz-nos cor e magia enquanto explora um novo contexto de guerra e refugiados, uma história antiga como o tempo. Os senhores da guerra estavam cada vez mais zangados, até ao dia em que começam a cair balas e bombas, por isso o pai diz que é preciso fazer as malas e partir.
«O campo para onde nos trouxeram é como uma grande cidade de tendas. Tudo fica longe, há sempre muita gente pelo meio e nada se faz sem esperar numa longa fila. O pai não sabe, mas o que eu sonho mesmo, mesmo, é com uma fila que nos leve de volta para casa.»
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Inspirado no pequeno Alan Kurdi, que apareceu afogado numa praia da Turquia, este álbum para a infância e juventude é-nos narrado na primeira pessoa, a partir da perspetiva de uma criança que, naturalmente, não consegue compreender a verdadeira e assoladora dimensão da realidade que se lhe depara. O próprio pai tenta de alguma forma dourar essa mesma realidade, como quando se deparam com um «muro gigante de pedra e gente de farda ainda mais dura do que a pedra» que lhes barram a entrada, pois naquele «país tão perfeito só se entra com convite». Esta distorção da realidade, por um pai que quer proteger o filho, confere um ligeiro toque de humor tragicómico.
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Ao longo desta história são retratados os vários perigos por que um refugiado passa para conseguir entrar na Europa. Laia Domènech demorou dois anos a ilustrar este livro, com pastéis a óleo, e procurou documentar-se muito bem sobre o tema. As belas ilustrações, em tons pastel, destacam-se pela contenção cromática e formal. Apesar do desespero que aqui é retratado, em que as imagens podem falar por si só, e o texto é quase secundário, há lugar para a beleza desse vasto mundo com que o menino se depara ao longo da sua viagem pela sobrevivência, ainda que sem perder a esperança de um dia voltar a casa.
Afirma a autora, Rita Sineiro: «Quando era menina, os adultos mandavam-me para os livros para descansarem de mim e eu percebi logo aí que os livros eram o melhor lugar para eu descansar deles.»
Laia Domènech, a ilustradora, declara: «Vivo e trabalho em frente ao mar, na praia onde cresci. (…) olho para o mar e penso nas crianças, sozinhas ou acompanhadas, que o atravessam, mortas de medo e com os pés molhados. Diante do mar ilustrei esta história, tão dura e ao mesmo tempo tão cheia de ternura.»
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Este álbum, como todos os livros da editora, são acompanhados por um Guia de leitura no final que revela as motivações dos autores, permite ir mais a fundo no tema e usar o livro como ferramenta educativa, por exemplo para um debate na escola, na biblioteca ou em casa. Para a produção deste álbum seguem-se ainda critérios de ECOEDIÇÃO: produção de proximidade, impressão sobre papel certificado FSC e tecnologia de menor impacto ambiental, e capas com textura de tela, sem plastificação.
No próximo sábado 18 de junho, às 15:00, a Rita Sineiro vai estar na Biblioteca Almeida Garret, no Porto, para apresentar o seu livro.