Chegou a hora de dizer basta. Os jovens não podem continuar a ser vistos como um problema ou como um detalhe irrelevante nas políticas municipais. Olhão precisa de uma mudança radical nas suas prioridades.
Nos últimos anos, Olhão tem-se vangloriado como um destino turístico em ascensão, com os seus mercados emblemáticos e o charme das suas ruas históricas. Mas, por trás desta fachada de prosperidade, esconde-se uma realidade dura: os jovens olhanenses estão a ser ignorados e abandonados pelos sucessivos executivos camarários. A geração que deveria estar a moldar o futuro da cidade encontra-se sem oportunidades, sem apoio e sem perspetivas. O que lhes resta? Um concelho que se preocupa mais em agradar a turistas do que em cuidar de quem realmente aqui vive.
A obsessão cega pelo turismo e pelo lucro rápido tem levado a uma negligência chocante em áreas fundamentais para os jovens. Enquanto se investem milhões na renovação de espaços turísticos e na promoção externa da cidade, os jovens locais enfrentam a falta de espaços culturais, desportivos e educativos. Onde estão os centros de juventude modernos, equipados com tecnologia e preparados para fomentar a criatividade? Onde estão os apoios aos jovens empreendedores que poderiam gerar emprego e inovação no concelho? Olhão virou as costas à sua própria juventude, e a cidade está a pagar por isso.
O desporto e a cultura, pilares essenciais para o desenvolvimento de qualquer comunidade, estão completamente abandonados. Os equipamentos desportivos são obsoletos, os clubes locais sobrevivem com dificuldade e a oferta cultural é praticamente inexistente. Que mensagem se passa aos jovens? Que os seus sonhos, talentos e ambições não têm lugar em Olhão. Em vez de os integrar na vida da comunidade, Olhão prefere relegá-los para a periferia, transformando-os em meros espectadores de uma cidade orientada para agradar a quem vem de fora.
A situação é ainda mais grave quando se olha para a questão da habitação. Os jovens olhanenses foram simplesmente descartados do mercado imobiliário. A especulação imobiliária, impulsionada pelo turismo e pelos investidores estrangeiros, tornou o preço das casas proibitivo. Quem consegue pagar uma renda? Quem consegue comprar uma casa? Certamente não os jovens olhanenses, que são empurrados para fora do concelho, numa expulsão silenciosa que contribui para o envelhecimento da população e destrói o tecido social da cidade. Os executivos camarários preferem apostar em apartamentos de luxo para turistas do que em habitação acessível para os seus próprios residentes.
E no que toca a educação e emprego, o cenário não é menos desolador. Enquanto outras cidades apostam em parcerias com universidades, inovação tecnológica e criação de emprego qualificado, Olhão continua estagnada no tempo. Não existem oportunidades de formação profissional, incubadoras de startups ou incentivos à criação de emprego. O que sobra para os jovens? Trabalhos precários, empregos sazonais e a constante sensação de que o seu potencial está a ser desperdiçado.
Chegou a hora de dizer basta. Os jovens não podem continuar a ser vistos como um problema ou como um detalhe irrelevante nas políticas municipais. Olhão precisa de uma mudança radical nas suas prioridades. É urgente investir em habitação acessível, criar espaços culturais e desportivos dignos, apoiar o empreendedorismo e garantir acesso a educação e emprego qualificado. Sem isto, Olhão continuará a ser uma cidade para turistas, mas nunca para os seus habitantes.
A verdade é esta: Olhão está a morrer por dentro. A sua juventude está a ser expulsa, e, sem jovens, não há futuro. Chega de desculpas, chega de políticas que ignoram quem aqui vive. Está na altura de os executivos camarários acordarem e perceberem que, sem os jovens, Olhão será apenas um cartão-postal vazio. Ou mudam agora, ou não haverá cidade para salvar.
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