O flagelo dos incêndios continua a marcar o território português em 2024, deixando um rastro de destruição e preocupação. Com 1.912 crimes de incêndio florestal registados pela GNR até meados de agosto, este número chocante é um alerta de que a ameaça dos fogos, longe de ser um problema resolvido, continua a agravar-se. O impacto é devastador, não só para o meio ambiente, mas também para as comunidades e o património natural do país.
Embora o combate aos incêndios se tenha intensificado, com mais de 86 mil militares mobilizados para ações de prevenção e sensibilização, os números mostram que estamos longe de alcançar uma solução sustentável. Os números comparativos com 2023 – onde foram registados 3.299 crimes de incêndio em todo o ano – revelam uma escalada preocupante, sinalizando que os esforços, embora significativos, não estão a ser suficientes para travar este ciclo de destruição.
Precisamos de mais educação, mais fiscalização, e acima de tudo, mais responsabilidade coletiva
No Algarve, apesar do número de contraordenações ser relativamente baixo, a vigilância não pode ser relaxada. Com o distrito de Faro a contabilizar 124 infrações até agosto, a região mantém-se em risco. A seca persistente e a vasta cobertura florestal tornam o Algarve especialmente vulnerável a incêndios de grandes proporções, como os que ocorrem atualmente na Madeira.
A situação trágica na Madeira é um exemplo gritante da devastação que o fogo pode causar em pouco tempo. O incêndio que há 11 dias lavra na ilha já consumiu mais de 5.000 hectares, afetando a vida de centenas de pessoas e pondo em risco a sua rica biodiversidade, em particular a emblemática floresta laurissilva. Apesar do sucesso no controlo das frentes de fogo, o risco de reacendimentos permanece alto. A suspeita de fogo posto apenas aumenta a revolta, destacando a irresponsabilidade criminosa que ameaça vidas e destrói ecossistemas únicos.
Estas tragédias realçam a importância de uma estratégia de prevenção e combate aos incêndios mais robusta e integrada, que envolva não apenas as autoridades e bombeiros, mas também toda a população. A GNR, através da Operação Floresta Segura, tem desenvolvido ações importantes de sensibilização e fiscalização. No entanto, a adesão dos cidadãos e proprietários de terrenos às regras de limpeza de áreas florestais e gestão de combustíveis continua a ser essencial. Sem a cooperação de todos, os esforços das forças de segurança e proteção civil serão sempre insuficientes para impedir a repetição de tragédias como as que testemunhamos ano após ano.
É necessário reconhecer que a maioria dos incêndios resulta de comportamentos negligentes ou criminosos. A utilização imprudente do fogo em atividades agroflorestais continua a ser um dos principais responsáveis pelas ocorrências. A aposta em alternativas seguras, como o estilhaçamento e a incorporação dos sobrantes no solo, pode ajudar a reduzir significativamente os riscos.
Em última análise, a prevenção é a chave. Todos têm um papel a desempenhar na proteção das nossas florestas. O que está em jogo não é apenas a preservação da natureza, mas também a segurança das nossas comunidades e o futuro da nossa economia, que em regiões como o Algarve e a Madeira, depende fortemente do turismo e da paisagem natural.
Neste verão quente e seco, em que a sombra dos incêndios paira sobre o país, é urgente que todos adotem uma postura responsável e ativa. Os números que vemos, tanto no continente como na Madeira, devem servir de lembrete da vulnerabilidade do nosso território e da necessidade de uma vigilância contínua. Precisamos de mais educação, mais fiscalização, e acima de tudo, mais responsabilidade coletiva. Somente assim poderemos quebrar este ciclo devastador e proteger o que de mais precioso temos – as nossas florestas e as vidas que elas sustentam.
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