A aragem que corre, refresca a pele e faz vaguear o pensamento para além da sinfonia dos grilos desta noite de verão. O cheiro a maresia recorda que momento chegou, que o tempo é escasso e que teremos de mudar. É agora ou não mais será. A certeza do rumo a seguir ilumina-me o raciocínio, mas aperta-me o peito… seremos capazes de recomeçar?
Não é fácil, não podemos continuar perdidos na ilusão do caminho que já conhecemos, repetindo os erros do passado focados no crescimento desenfreado de uma economia cega e cruel. A tentação é grande! O vírus não nos debilitou apenas o corpo, vazou-nos os bolsos, sacudiu-nos a alma e escorraçou-nos os sonhos. Mas não podemos ceder. É tempo para se cumprirem novos pactos!
O pacto do respeito pelos jovens, da sua educação baseada em valores reais não transacionáveis, onde todos tenhamos espaço e tempo para falharmos e evoluirmos. A aposta no ensino da Ciência, como linha orientadora do rigor e da seriedade no trabalho. A Ciência capaz de desmistificar as diferenças, de derrubar os muros da ignorância, de gerir os escassos recursos naturais, e de curar as novas doenças. Haverá sempre novas doenças e cada vez menos recursos naturais. Certos de que esta Ciência se constrói degrau a degrau, e que por vezes é derrubada por factos ou artefactos inesperados, mas que com a persistência e o espírito de missão de alguns, acaba por acertar e inverte a evolução da História. A Ciência dos que têm a humildade de admitir as suas falhas, e de aprender e ensinar os outros com elas.
O pacto da inclusão, de não se deixar ninguém para trás. A cultura de sociedades mais atentas ao que de facto é importante. E que isso não falte a ninguém, seja qual for a crença, a idade, o género, a cor, a nacionalidade… Para isso a família, seja em que formato for, deverá ser a impressora 3D das diversas peças destas sociedades, abertas e inclusivas.
O pacto com a Natureza, dos serviços que assegura aos quase 8 mil milhões que hoje somos, garantindo ar puro, água, alimento, energia, sombra… e que ainda nos embala com alegres sinfonias em desconcertantes noites de verão. Neste green deal temos o precioso recurso à inovação tecnológica, que nos permitirá fazer de forma mais precisa, mais rápida, com mais força, e com maior capacidade de armazenamento. A tecnologia como reforço daquilo que no humano per si é limitado, mas que nunca substitui sentimentos por grandezas físicas!
E este será o último pacto, o pacto com o amor, que nos fará seguir até onde os sonhos nos levarem. O amor desinteressado e sem formato pré-definido. O amor que rebenta a bolha catastrófica da solidão, nos enche a alma e nos muda a vida. Que nos mutila quando parte, mas que nos faz voar para além do horizonte da Natureza, da Tecnologia e da Ciência. Porque seja qual for o tempo, o amor será sempre o mais importante e a principal força de mudança.
A mudança será assim, difícil e desafiante… Mas teremos que mudar!