O debate sobre a aplicação da taxa turística tem vindo a crescer em Portugal, à medida que mais municípios aderem a esta medida. No Algarve, um dos destinos turísticos mais procurados do país, a introdução da taxa em alguns municípios tem gerado discussões sobre a sua justiça e, principalmente, sobre a melhor forma de utilizar as suas receitas. Afinal, é justa esta cobrança aos turistas ou a quem se desloca? E, mais importante, em que áreas devem ser aplicadas as receitas geradas?
Em primeiro lugar, é importante reconhecer que o turismo, apesar de ser uma força motriz da economia do Algarve, traz consigo pressões consideráveis sobre as infraestruturas, serviços públicos e recursos naturais da região. O aumento populacional sazonal durante os meses de verão exige um reforço significativo em áreas como a limpeza urbana, a segurança, a gestão do espaço público e a conservação do património cultural. Neste sentido, a taxa turística aparece como uma ferramenta justa para repartir o peso desses custos entre aqueles que mais usufruem dos serviços, os turistas.
A experiência de outros municípios e cidades internacionais
Se olharmos para Lisboa, onde a taxa turística já está estabelecida desde 2016 e gerou mais de 200 milhões de euros em receitas, percebemos que as verbas arrecadadas têm sido aplicadas em áreas essenciais como a limpeza urbana, a criação de novas infraestruturas turísticas e o apoio à cultura. Exemplos como o Museu do Tesouro Real e o Centro Interpretativo da Ponte 25 de Abril, ambos financiados com receitas da taxa turística, demonstram que esta pode ser um motor para o crescimento sustentável do setor.
O sucesso desta medida depende da transparência na gestão das receitas e da sua aplicação em áreas que beneficiem tanto os turistas como sobretudo os residentes locais
No entanto, é crucial garantir que estas receitas sejam aplicadas de forma a beneficiar não apenas o turismo, mas também a qualidade de vida dos residentes. Sintra, por exemplo, enfrenta um “turismo descontrolado” que tem causado insatisfação entre os moradores devido aos problemas de mobilidade e segurança. A aplicação das receitas para mitigar os impactos negativos do turismo nas comunidades locais deve ser uma prioridade.
Fora de Portugal, cidades como Barcelona e Veneza, que há muito lidam com o turismo em massa, implementaram taxas turísticas como forma de equilibrar os custos entre visitantes e residentes. Em Barcelona, por exemplo, parte das receitas é direcionada para projetos de habitação acessível, tentando amenizar o impacto do turismo sobre os preços do imobiliário local. Já em Veneza, a taxa tem sido aplicada para proteger a cidade histórica da degradação causada pelo excesso de visitantes.
O Algarve: um destino único, desafios particulares
O Algarve enfrenta desafios específicos que o diferenciam de outros destinos turísticos em Portugal. A sua dependência do turismo balnear exige uma manutenção contínua das praias, áreas verdes e infraestruturas públicas, para além de um aumento na capacidade dos serviços de saúde e segurança durante a época alta. Compreensivelmente, municípios como Loulé, que se preparam para começar a cobrar a taxa em novembro, ou Faro, que já arrecadou quase um milhão de euros em 2022, veem nesta medida uma forma de garantir que o crescimento turístico seja sustentável.
Dado que os recursos naturais, como as praias e os parques naturais, são um dos maiores ativos da região, faz sentido que uma parte significativa das receitas seja canalizada para a preservação ambiental e para a melhoria das infraestruturas que suportam a atividade turística. Além disso, a aposta na cultura e na valorização do património regional pode ajudar a diversificar a oferta turística, tornando o Algarve menos dependente do turismo sazonal.
Onde aplicar as receitas?
A aplicação das receitas da taxa turística no Algarve deve ser estratégica. Áreas prioritárias poderiam incluir:
Preservação Ambiental: A manutenção e recuperação de praias, reservas naturais e espaços verdes devem estar no topo da agenda. O turismo de massas coloca uma pressão considerável sobre estes recursos, e o financiamento das medidas de preservação garantirá que continuem a ser um atrativo para gerações futuras.
Infraestruturas públicas e serviços urbanos: A melhoria dos serviços de limpeza, saneamento e segurança, especialmente nos meses de verão, é fundamental para assegurar que o Algarve continue a ser um destino apelativo tanto para turistas como para residentes.
Cultura e património: Investir em atrações culturais e na conservação do património histórico pode ajudar a mitigar a sazonalidade do turismo, atraindo visitantes durante todo o ano e promovendo um turismo mais diversificado e sustentável.
Habitação e mobilidade: A pressão turística também afeta o mercado de habitação e a mobilidade. Parte das receitas poderia ser canalizada para programas de habitação acessível e para a melhoria dos transportes públicos, especialmente em áreas saturadas pelo turismo.
Uma medida justa, mas com condições
Em conclusão, a taxa turística, quando bem aplicada, é uma medida justa. Ela permite que os municípios equilibrem os custos gerados pelo aumento da atividade turística, enquanto promovem um desenvolvimento sustentável da região. No entanto, o sucesso desta medida depende da transparência na gestão das receitas e da sua aplicação em áreas que beneficiem tanto os turistas como sobretudo os residentes locais. O Algarve tem a oportunidade de seguir o exemplo de cidades como Lisboa e Barcelona, utilizando a taxa turística como uma ferramenta poderosa para promover o equilíbrio entre o crescimento turístico e a qualidade de vida da população local. Afinal, o turismo deve ser uma bênção, e não um fardo.
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