Formalmente, não se vota para a governação do país, mas para deputados seus representantes, que, depois, sobre a dita governação se deverão pronunciar, mas, na prática, votar-se-á em quem na governação do país se quer, só, assim, se compreendendo incompreensões manifestadas por se ver um partido ou coligação deles a ganhar as eleições, mas ser outro ou coligação deles a formar governo, como já aconteceu, por exemplo, pós «Troica», com uma AD e PS, respetivamente, ou, ainda, o assistir-se a um próprio Presidente da República, Marcelo, a dissolver uma Assembleia da República, por entender que se havia votado num primeiro-ministro em exercício, Costa, e este ter, entretanto, decidido deixar de o ser.
Formalmente, não se elege um deputado por um determinado círculo para que ele o passe a representar, já que, uma vez eleito, deverá representar, por igual, todo o país, mas, na prática, votar-se-á nele pensando no que pelo círculo poderá fazer, dadas as iguais incompreensões manifestadas face aos designados candidatos «paraquedistas», que, por exemplo, nascidos e criados numa Lisboa, se candidatam por um círculo do Algarve, conhecendo, apenas, deste, se conhecerem, a praia onde costumarão passar férias.
Depois, tem-se o caso das eleições autárquicas, em que, como já aqui o deixámos referido, os partidos não só apresentam os seus programas, mas dão especial relevo aos «currículos», em particular, dos seus candidatos à presidência das autarquias, procurando através deles demonstrar a sua idoneidade e competência para as autarquias dirigirem. Só que, a seguir, eleitos presidentes sendo, para outros lugares, contudo, partem e quem no lugar os substitui os votos dos eleitores não receberiam, por não lhes reconhecer as qualidades necessárias para o efeito!

Jurista
Não só teremos um ano rico em festas de eleições, como os mais diversos municípios já começaram, antecipadamente, a anunciar as demais festas que durante o ano irão ter lugar na sua área
Finalmente, uma coisa são as eleições para a Assembleia da República, outras para o Parlamento Europeu, pelo que se poderá dar o caso de se ter, simultaneamente, uma maioria de deputados de «esquerda» defendendo e aprovando, internamente, determinadas políticas, como, por exemplo, no domínio da imigração ou armamento e uma maioria de «direita», externamente, defendendo o seu contrário ou vice-versa!
Ah! E teremos, ainda, o facto de os partidos ou coligações gastarem imenso dinheiro em impressão dos respetivos programas eleitorais, mas que quase ninguém lerá, votando neles por mera fé ou amor clubístico!
Mas, pronto, também não se pode exigir que a democracia seja perfeita, comportando imperfeições que um próprio Churchill já lhe reconheceria.
Post-scriptum:
1 – Como os partidos recebem subsídios estatais, que o mesmo é dizer, suportados por todos nós contribuintes (não é, pessoal da Iniciativa Liberal?), para fazerem face as despesas suas, nomeadamente propaganda eleitoral, talvez não fosse má ideia, como forma de poupança, criar-se, na internet, um sítio oficial onde, em cada eleição havida, se poderia consultar os programas e candidatos (com fotos mesmo retocadas e respetivos currículos) dos partidos ou grupos de cidadãos que a elas concorressem! Não só se pouparia dinheiro em papel com propaganda (quantas árvores abatidas para o efeito, não é, ecologistas?), como, igualmente, deixaria de haver queixas quanto aos atentados ambientais e riscos rodoviários, inclusive, que, muitas das vezes, essa propaganda comportará, com colocação de cartazes nos locais mais inapropriados, nomeadamente, em rotundas (como se em rotundas nos pudéssemos distrair da condução que façamos dum veículo, observando-os atentamente, não é, pessoal da Prevenção Rodoviária?), e mantendo-se, até, já no espaço público, degradados, para além das eleições!
2 – Não só teremos um ano rico em festas de eleições, como os mais diversos municípios já começaram, antecipadamente, a anunciar as demais festas que durante o ano irão ter lugar na sua área, inclusive Passagens de Ano (!), contratando fogos-de-artifício e artistas vários, mesmo que quem à frente das ditas autarquias esteja possa vir a já não estar quando tais festas tiverem lugar! Ou seja, um futuro novel executivo autárquico fica, desde já, condicionado, festivamente, por outro que deixará de o ser! Nada, pois, como uma grande farra eleitoral e outras tais!
3 – Em tempos de eleições costuma vir ao de cima o tema «moderados versus radicais».
Estamos cá desconfiados que se não tem havido um grupo de «radicais» militares a derrubarem o antigo regime e estivéssemos à espera dos «moderados» da ala liberal da então Assembleia Nacional que conseguissem reformar o dito regime, ainda hoje viveríamos em ditadura!
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