Num mundo cada vez mais complexo e desafiante, a educação financeira assume um papel crucial na preparação dos jovens para os desafios da vida adulta. No entanto, apesar de alguns avanços significativos, a realidade educativa em Portugal, do 1º ao 12º ano, revela lacunas no que concerne à literacia financeira, essencial para uma gestão monetária eficaz e consciente.
A importância de incutir noções de planeamento financeiro, desde a criação e gestão de orçamentos até ao estabelecimento de metas financeiras a curto, médio e longo prazo, é inegável. Estratégias para poupar e investir, compreender os meandros do crédito e do endividamento, além da gestão responsável de cartões de crédito e outros tipos de crédito, são fundamentais para evitar armadilhas financeiras que podem comprometer o futuro dos jovens.
Porém, estudos da OCDE indicam que Portugal se situa abaixo da média em literacia financeira entre os países membros, um indicativo preocupante que reforça a necessidade de um programa educacional robusto nesta área. O resultado de um estudo do Banco de Portugal, também revela que uma percentagem significativa dos jovens entre os 18 e os 24 anos no Algarve enfrenta dificuldades financeiras devido a endividamento. Um número que poderia ser mitigado com uma educação financeira adequada desde cedo.
Além disso, pesquisas recentes demonstram que programas de educação financeira implementados em escolas resultam numa melhoria significativa na capacidade de os jovens gerirem as suas finanças, com uma redução de 40% nas probabilidades de endividamento precoce. No Algarve, por exemplo, jovens empreendedores que receberam formação financeira têm uma taxa de sucesso 30% superior em comparação com os jovens que não tiveram acesso a essa formação, destacando a importância do empreendedorismo no currículo escolar.
Em relação aos docentes, um inquérito realizado a professores do 1º ao 12º ano revelou que apenas 20% se sentem confiantes em ensinar conceitos financeiros básicos, evidenciando uma clara necessidade de formação especializada. Nesse sentido, a implementação de um programa de educação financeira abrangente e obrigatório, terá de implicar a formação especializada para professores e a inclusão de especialistas em finanças no processo educativo, entre outras medidas que podem enriquecer significativamente o currículo nacional.
É que investir na educação financeira dos jovens não é apenas uma aposta no seu desenvolvimento individual, também é um investimento no futuro económico do país. Estudos recentes mostram que em Portugal a taxa de pobreza entre aqueles que não completaram o ensino secundário é quatro vezes superior àqueles que possuem uma licenciatura. Esta estatística sublinha a ligação intrínseca entre educação (incluindo educação financeira) e a melhoria das condições de vida.
À medida que avançamos para um futuro cada vez mais incerto, torna-se imperativo que as escolas, em conjunto com as famílias, assumam a responsabilidade de preparar os jovens para uma realidade em constante mudança. A educação financeira não é apenas sobre dinheiro, é sobre construir uma base sólida para decisões de vida conscientes e responsáveis. Ao equipar os jovens do Algarve com este conhecimento, estamos a abrir portas para um futuro mais próspero e seguro.
* Autor do website institucional www.aejdfaro.pt e responsável pela comunicação externa do Agrupamento;
- 28 anos de experiência como docente no Ensino Secundário
- 5 anos de experiência como docente no Ensino Superior
- Mais de 1000 horas de formação de adultos
- Fundador e gerente da Webfarus Marketing Digital (www.webfarus.com)
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