Gosto de pessoas “sem merdas”, daquelas que se estão a lixar que as olhem de lado quando se riem alto na rua; daquelas que apreciam todas as comidas e que, quando o arroz vem com passas (quem é que pode gostar de passas, por Deus?), se limitam a pô-las para o lado continuando a comer.
Gosto de pessoas que não fazem cenas nem armam dramas mesmo quando as situações o pedem, mas sabem usar o dedo do meio e palavrões cabeludos nas ocasiões certas.
Gosto de malta que diz o que pensa e faz o que diz e raramente se arrepende por não ter nada de que se arrepender.
Gosto de gente ousada, picante, marota, que se transforma em ovelha quando todos são lobos só pelo prazer da diferença e insubmissão.
Gosto de humanos paradoxais, ilegíveis e imprevisíveis, daqueles a quem os pequenos receios passam ao largo e que derrotam os grandes medos com um humor divertido.
Gosto de quem se aceita e se quer melhorar; de quem se respeita para poder respeitar; de quem se explora, se assume, se mostra, se expande, gosto destas mesmo muito.
Gosto dos que sabem pedir desculpa, dar o braço a torcer e não deixam que mesquinhos orgulhos lhes roubem afectos.
Gosto de quem não vive sem música nem livros nem todas as formas de arte sem querer parecer erudito.
Gosto de gente agradecida, humilde, vivida, viajada e culta ao ponto de saber que nada sabe.
Gosto de quem sabe estar na mais rasca tasca com o mesmo à vontade com que se desloca na nata e gasta mais “bons dias” com os humildes que com os grandes. Gosto de quem segura a porta, de quem se levanta, de quem se está “nas tintas” para como vai ser interpretado aquele sorriso rasgado e interminável abraço.
Gosto de pessoas “sem merdas”, daquelas que vivem de facto cada momento sem esperar demasiado; daquelas que sabem ser apenas mais uma entre milhões, mas ainda assim se distinguem por, de tão fieis a si mesmas, se tornarem únicas…
(CM)