Confesso que tenho momentos em que me sinto angustiado com o estado do pais, com o fato (não o que guardo no roupeiro) de que tendo o mesmo quase novecentos anos de história, pedalar, nem sequer é no meio, quanto mais na frente, mas na retaguarda dum pelotão chamado Europa, como, volta não volta e com igual angústia, presumo, Cavaco Silva sente obrigação de nos alertar, ainda que ele, enquanto governante foi, dessa cauda não nos tivesse conseguido tirar. Momentos esses em que corro para a cozinha a ver se por lá encontro algo que me adocique um pouco a amargura sentida, nem que seja uma simples batata-doce, não sabendo se Cavaco Silva, em iguais momentos, recorrerá a bolo-rei.
Mas se tenho momentos em que me sinto angustiado, amargurado, deprimido, outros há em que, repentinamente, se apodera de mim toda uma alegria (há quem já me questione se não sofrerei de bipolaridade), uma alegria feita de certezas de que o país, não só acabará por passar para a frente do dito pelotão da Europa, como, inclusive, dele será capaz, depois, de descolar numa vigorosa e impressionante fuga a caminho da meta, onde, finalmente, encontraremos a nossa felicidade coletiva, fique essa meta onde ficar!
E quando nascem, como surgem, exatamente, esses momentos de alegria, de esperança, perguntar-se-á?
Mau grado o Trump ter cometido a desfeita de não ter convidado o nosso Toninho para a sua tomada de posse. Mas cá se fazem, cá se pagam, atenção, pois, Trumpezinho!
Desde logo, quando me é dado assistir a desfiles intermináveis de «especialistas» nas mais diversas áreas pelas nossas queridas televisões, debitando os mais profundos saberes, como aconteceu, por exemplo, no dia de tomada de posse de Trump, ainda que esses saberes, de tão profundos, metafísicos, me deixem, não raro, perdido no meio deles. Ou seja, não faltará ao país «massa cinzenta», ela tem sido é mal aproveitada, não havendo necessidade, sequer, de se gastar dinheiro com duvidosas, ainda por cima, inteligências artificiais para o país progredir, que as tem bem genuínas, fiáveis!
Depois, quando vejo a nossa elite política, bem formada, moderada e reformista, que não radical e extremista, ser capaz de a todos nós, civicamente, mobilizar em volta dela para patrióticas batalhas, seja no domínio da saúde, da justiça ou da habitação, possuída de ideias e condutas éticas que nos fascinam e de que nos permitimos realçar pequenos exemplos como estes:
«- Não me parece que o Dr. António José Seguro cumpra os requisitos mínimos de uma candidatura à Presidência da República, porque se fica pelas banalidades» – Augusto Santos Silva na RTP 2
“O debate democrático pressupõe o respeito por regras de civilidade mínimas, sob pena de se transformar numa lamentável troca de insultos e de acusações abjetas. Aos principais responsáveis políticos exige-se elevação e contenção (…) António José Seguro é um homem de caráter, condição que deveria ser imprescindível para o exercício de funções públicas” – Francisco Assis, em nota enviada à agência Lusa.
“Pessoalmente não tenho dúvida em incentivar Augusto Santos Silva à Presidência da República, uma personalidade com grande experiência política nacional e internacional» – Marta Temido, no Facebook.
«As palavras de Augusto Santos Silva são ordinárias. É lamentável que alguém que teve relevantes funções ao longo de 30 anos, foi o ministro mais presente em todos os governos, com três primeiros-ministros, chegue a este ponto» – Ascenso Simões, na SIC Notícias.
Finalmente, quando vejo na televisão o nosso Toninho nas suas novas funções de Presidente do Conselho Europeu, falando já, até, num inglês que nos encanta, com todas as portas que ele poderá abrir em favor do nosso país, tal como o Zé Manel, enquanto Presidente que foi da Comissão Europeia, soube abrir as de uma Goldman Sachs. Isto, mau grado o Trump ter cometido a desfeita de não ter convidado o nosso Toninho para a sua tomada de posse. Mas cá se fazem, cá se pagam, atenção, pois, Trumpezinho!
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