É inegável a importância para o nosso bem-estar e para a nossa saúde mental desenvolvermos emoções positivas.
Tal como quando ouvimos uma boa música, apreciar artes visuais é seguramente uma boa forma de despertarmos essas emoções e sentir a plenitude desses momentos, comportando benefícios no plano psicológico.
Todos os nossos sentidos podem contribuir para a nossa fruição, mas a audição e a visão são os nossos dois principais sentidos para a relação que estabelecemos com as atividades culturais.
É fantástica a sensação de plenitude e preenchimento que temos quando inspiramos profundamente ao sermos confrontados com a beleza duma obra de arte, pela cor ou pela forma que esta apresenta.
Mas, para além da componente emocional, uma obra de arte também pode ter uma dimensão cognitiva.
Sendo a arte uma forma de comunicação, muitos artistas procuram expressar, não apenas emoções e sentimentos, mas também ideias e conceitos nas suas produções artísticas.
Costuma dizer-se que uma imagem pode valer mais do que mil palavras e, desta forma, uma obra de arte visual pode conseguir sintetizar ideias que ajudam a tomada de consciência e a reflexão do espetador, para além da componente emocional que possa comportar.
Embora atualmente haja muitas obras de arte urbana, acessíveis a qualquer um, as visitas a museus permitem-nos um contacto mais sistemático e organizado com as artes visuais.
Nas várias semanas de confinamento não foi possível visitar museus ou exposições de forma presencial. E, mesmo terminando o estado de emergência nos vários países, as restrições em espaços públicos mantêm-se. Os museus e outros espaços de fruição de artes visuais não são exceção.
Assim sendo, têm sido muitos os museus que, embora estando encerrados para visitas presenciais, têm criado a possibilidade de visitas virtuais às suas exposições.
No último artigo, intitulado “Como visitar museus em tempos de Covid19?”, demos conta duma iniciativa promovida pela plataforma da Google que permite realizar visitas online a centenas dos principais museus de arte em todo o mundo, através do link https://artsandculture.google.com/partner?hl=en
Mais recentemente, de Portugal para o mundo, a galeria lisboeta Underdogspropõe uma exposição coletiva online, que estará patente até ao próximo dia 13 de Junho, em www.under-dogs.net
Esta mostra tem a particularidade de apenas conter obras que foram criadas por 32 artistas, portugueses e estrangeiros, durante o período de confinamento, feitas com materiais que estes tinham em casa. A designação “Right now”, ilustra esta característica da exposição, em que os artistas produziram obras que falavam da sua realidade e das circunstâncias presentes durante o período de confinamento, onde quer que estivessem.
Um rosto quebrado por uma máscara, a impossível proximidade de um beijo, a difícil passagem do tempo, o distanciamento social, a casa como espaço seguro ou como prisão e a natureza que floresce lá fora, são algumas das imagens criadas durante este processo por artistas como Aka Corleone, André da Loba, Maria Imaginário, Pedrita Studio, Okuda San Miguel, Wasted Rita, André Saraiva, Bráulio Amado, Francisco Vidal e Vhils.
Sem poder sair de casa, os artistas tiveram de usar apenas os materiais que já tinham consigo e alguns deles tiveram também de usar técnicas mais simples do que aquelas que é habitual no seu trabalho. É o caso de Vhils, por exemplo, que apresenta desenhos, quando em geral apenas os usa como base para outros trabalhos de grande dimensão.
No comunicado à imprensa, a curadora Pauline Foessel explica: “Sempre acreditámos que a arte cumpre um papel fundamental em aproximar as pessoas, agora estamos seguros de que é crucial para manter o nosso sentido de comunidade, de proporcionar apoio e conforto durante este novo capítulo da nossa experiência humana conjunta.”
Efetivamente, trata-se duma experiência global, vivida por todos em todo o planeta, independentemente de sexo, raça ou religião. Esperemos que possa servir para nos unir e refletir sobre o que realmente é importante, bem como para desenvolvermos atitudes e comportamentos mais adequados para nós mesmos, para com os outros e para com o planeta Terra, em particular outras espécies animais e a natureza.
Devemos procurar fruir das artes, mas com esta fruição devemos aprender a fruir daquilo que está à nossa volta, em cada momento, com consciência e emoção plenas, serenidade e gratidão.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de junho)