No artigo anterior escrevi sobre a exploração dos pobres dentro de cada país, agora vou dedicar estas poucas linhas à exploração dos pobres ao nível internacional.
No sistema económico mundial a realidade é do ‘salve-se quem puder’. A este nível confrontam-se os interesses privados de cada país e os interesses políticos, económicos e militares dos estados no chamado ‘xadrez geoestratégico’.
Os países pobres de África e América Latina são produtores de matérias primas vendidas no mercado mundial a preços irrisórios comparados com os produtos industriais e tecnológicos produzidos pelos países desenvolvidos. Onde existe ouro e diamantes a exploração é feita por empresas estrangeiras cujo controlo ou não existe ou é feito deficientemente, é fácil subornar os altos funcionários mal pagos. Aqueles países e as suas empresas não têm qualquer poder negocial face às grandes multinacionais, por isso limitam-se a existir no mercado mundial concorrendo entre si para ver se conseguem vender mais, quem beneficia são os compradores.
Os grandes meios de transporte, navios e aviões, pertencem a empresas dos países ricos e cobram o necessário para terem grandes lucros. As seguradoras pertencem aos mesmos países, assim como os bancos que recebem os depósitos e que financiam os projectos de investimento que conseguem ser executados.
A transferência de tecnologia a baixos custos é uma miragem. Essa transferência faz-se a custos elevados e com condições de utilização/comercialização execráveis. Aqueles países estão numa ‘camisa’ de forças de onde não conseguem sair.
E o que dizer das suas populações? Não têm estradas, nem transportes, nem água potável, nem luz, nem saneamento, nem escolas, nem sistemas de saúde dignos desse nome. Os países bem como as famílias fazem um enorme esforço para alguns dos seus jovens virem estudar para os países desenvolvidos, mas depois raramente regressam aos seus países de origem para os desenvolver, porque são aliciados por melhores ordenados e condições de trabalho onde estudaram, quem beneficia dessa mão de obra especializada e sem custos são os países de acolhimento.
Todos nós, que vivemos nos países mais desenvolvidos, beneficiamos da exploração dos países pobres através da compra de bens fabricados com as matérias primas vendidas a preços muito baixos. Este facto pode parecer difícil de acreditar, mas imaginem que as matérias primas eram produzidas nos países ricos, a que preço sairiam os produtos finais que compramos?
A exploração não fica por aqui porque como as populações de África e da América Latina não têm condições de vida nos seus países tentam vir para a Europa ou América do Norte para melhorarem a vida, mas nem se apercebem que vão ser explorados até à medula, sobretudo enquanto não tiverem autorização para viverem e trabalharem no país de chegada. Mais uma vez a economia dos países ricos beneficia com a pobreza das populações dos países pobres.
Todos os lucros obtidos pelos grandes consórcios em cada país passam para a esfera internacional, através de uma teia de interdependências empresariais, indo enriquecer ainda mais cerca de uma centena de multimilionários, ao nível mundial, bem como também os quadros técnicos que suportam o funcionamento de toda a estrutura das empresas multinacionais e transnacionais, estes através de ordenados principescos.
É o funcionamento da economia de mercado. É triste, mas é o mundo em que vivemos.
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