Aproveitando as condições climatéricas do Algarve, com uma luz que permite uma cor e um brilho especiais, vários artistas, nomeadamente estrangeiros, têm vindo residir para o Algarve nos últimos anos. Mas são também artistas portugueses com percurso internacional que têm escolhido o Algarve para residir e desenvolver a sua atividade, como é o caso de Pedro Cabrita Reis.
Desta forma, o Algarve tem sido, não apenas local de fruição, mas também espaço e tempo de produção artística no âmbito das Artes Visuais.
Num projeto iniciado já no século XXI, no Algarve começou-se também a desenvolver o conhecimento e a investigação no domínio das Artes Visuais, tendo a Universidade do Algarve (UAlg) sido essencial para isso, com a abertura da licenciatura em Artes Visuais, permitindo a existência no Algarve dum ambiente formal para aprendizagem no âmbito das artes visuais. Com um corpo docente constituído sobretudo por artistas, os alunos têm tido oportunidade de vivenciar de perto o mundo da arte na sua complexidade e articulação entre a teoria e a prática. Além disso, beneficiam duma formação multidisciplinar, em que o desenho, a pintura, a escultura, a fotografia, a videoarte e a arte digital/multimédia se complementam na sua formação.
A criação do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) foi também essencial neste processo, sobretudo do ponto de vista da investigação em Artes Visuais, permitindo a construção do conhecimento neste domínio, mas estando este muito associado à própria formação dos alunos, sobretudo ao nível do mestrado e do doutoramento no âmbito das Artes Visuais, que abriram mais recentemente na UAlg. Assim, o centro de investigação e a formação em Artes Visuais interligam-se quase como um laboratório de criação e aprendizagem neste domínio científico/artístico, em que a arte e a ciência se entrecruzam, tornando-se a arte ciência e a ciência arte.
Mesmo em tempos de pandemia, a formação no âmbito das artes visuais tem ocorrido dentro das possibilidades, graças à elevada motivação e empenho dos docentes e dos estudantes, num esforço constante de adaptação às contingências do período em que vivemos.
A relação com a comunidade tem sido desde o início um dos aspetos muito valorizados pela equipa de docentes, sendo constantemente feitas mostras ou exposições do trabalho artístico produzido nas atividades letivas, em particular pelos próprios alunos. Muitas das atividades de mostra do trabalho produzido têm sido realizadas na Galeria Trem, em Faro, ou no Convento de Santo António, em Loulé, expressando o reconhecimento e o apoio que ambas as autarquias têm proporcionado às Artes Visuais na UAlg.
Recentemente foi inaugurada mais uma exposição de trabalhos dos finalistas da Licenciatura em Artes Visuais, desta vez no Convento de Santo António, a qual poderá ser visitada até ao próximo dia 15 de novembro.
O título da exposição, “O Toque em tempos ilícitos”, pretende expressar a complexidade e o condicionamento deste ano letivo ocorrido durante a pandemia. Através da expressão artística, cada estudante procurou expressar um sentimento que é comum na atualidade: «Que tempos são estes? De que forma e quando, voltaremos a ser como antes?».
Os trabalhos expostos são da autoria de De Borj@, Gonçalo, Joana Bento, Lorena, Manu, Margarida Lopes, Mariana Domingos, Miguel Costa e Sofia Cardoso, sendo a curadoria da responsabilidade dos docentes Bertílio Martins, Mirian Tavares, Pedro Cabral Santo, Rui Sanches, Susana de Medeiros, Tiago Batista e Xana.
Os responsáveis pela exposição referem que “através do toque, trabalharam a matéria, os materiais, transformaram as ideias em obras e criaram a exposição possível nos tempos que correm. Esta exposição integra, na sua lógica interna, a arquitetura complexa do edifício, a sua história, as memórias, e procura ir ao encontro do espetador para o envolver e tocar de alguma forma, já que o toque, na era da pandemia, foi decretado «ilícito» (…) Completamos, com esta exposição, mais um ciclo de estudo no domínio das artes visuais e apresentamos mais um grupo de artistas promissores. Esperamos sempre que a comunidade os acolha e que perceba a importância das artes e da produção que é feita no Algarve, dentro da Universidade. Apesar de fisicamente distantes, continuamos a trabalhar, e os jovens artistas a produzir, pois se há algo que talvez nos possa salvar da incerteza e do distanciamento social, é a Arte que nos toca profundamente, mesmo em tempos ilícitos”.
Vale a pena refletir sobre estas palavras e fruir da exposição…