A próstata é uma glândula específica do aparelho reprodutor de todos os mamíferos que tem como função a produção de um fluido que é parte constituinte do sémen. No Homem esta glândula localiza-se imediatamente abaixo da bexiga e à frente do recto. De forma praticamente invariável no ser humano a próstata aumenta de tamanho à medida que o individuo envelhece, sendo contudo variável de individuo para individuo a taxa de crescimento ao longo da idade.
Várias doenças podem acometer a próstata, uma delas é o cancro da próstata. Em Portugal, por ano, diagnosticam-se cerca de 4.000 novos casos, com uma mortalidade aproximada de 1.000 doentes por ano. Actualmente, o cancro da próstata é a segunda causa de morte por cancro, logo depois do cancro do pulmão.
O cancro da próstata diferencia-se de outros tumores malignos pela lenta evolução na maioria dos casos. Na sua fase inicial geralmente não causa sintomas. No entanto, em situações mais avançadas pode causar problemas urinários e disfunção eréctil. É importante saber que doenças benignas podem também ter sintomas semelhantes.
O seu diagnóstico pode ser facilitado através de exames médicos específicos, dentro dos quais se destacam o toque rectal e a determinação sanguínea de uma proteína específica da próstata (PSA). A determinação do PSA está indicada em homens com uma esperança de vida superior a 10 anos. Uma vigilância adequada a partir dos 50 anos (40 anos se história familiar de cancro ou em homens de raça negra) permite detectar a doença numa fase inicial permitindo assim a instituição de tratamentos com intuito curativo.
Dependendo da situação, as opções de tratamento do cancro da próstata podem incluir: conduta expectante ou vigilância activa; cirurgia; radioterapia; criocirurgia; HIFU; terapêutica hormonal; quimioterapia; tratamento dirigido aos ossos. O tratamento escolhido deve ter em conta a idade e esperança de vida, o estádio e agressividade do cancro, as expectativas do doente, probabilidade de cura e possíveis efeitos colaterais de cada tratamento.
Os recentes avanços nas técnicas cirúrgicas resultaram em procedimentos mais curtos e menos invasivos com menos efeitos secundários. Estas melhorias resultaram num aumento do número dos procedimentos realizados em regime ambulatório. Além disso, os pacientes estão hoje melhor informados e desempenham um papel mais activo nas decisões terapêuticas, exigindo tratamentos altamente eficientes e de preferência em regime de ambulatório, que se traduzam numa rápida recuperação para retornar à vida activa.
O tratamento cirúrgico do cancro da próstata consiste na prostatectomia radical (PR). Isto envolve a remoção de toda a glândula prostática entre a uretra e a bexiga. O objectivo da prostatectomia radical deve ser erradicação da doença, preservando a continência e, sempre que possível a função eréctil. Os pacientes com uma esperança de vida superior a 10 anos têm maior probabilidade de beneficiar deste procedimento. A PR pode ser executada por uma abordagem retropúbica ou perineal sendo que ambas são realizadas através de incisões abertas. Mais recentemente, a prostatectomia radical retropúbica laparoscópica minimamente invasiva e assistida por robô têm sido desenvolvidas. A possibilidade de utilizar instrumentos cirúrgicos cada vez mais finos e o aperfeiçoamento da técnica, com a consequente diminuição da morbilidade, permite a realização destes procedimentos em regime de ambulatório. Deste modo existe um claro benefício económico e clínico, traduzido numa diminuição da incontinência urinária, do risco de disfunção eréctil e um retorno precoce do doente à sua vida activa.
Dependendo de várias características clínicas e agressividade tumoral existem ainda outras técnicas minimamente invasivas para o tratamento do cancro da próstata das quais se destacam a braquiterapia, a criocirurgia e o HIFU (utilização de energia ultrassónica de grande intensidade focalizada para ablação do tumor). Estas técnicas podem ser efetuadas sob anestesia geral ou loco-regional durante cerca de 60 a 180 minutos sendo realizadas habitualmente em regime de ambulatório. Pacientes com cancros da próstata de baixo risco são os candidatos mais adequados para estas terapêuticas menos invasivas.
A braquiterapia prostática consiste na implantação, directamente na glândula prostática, através de diversas agulhas, por via transperineal e ecoguiada, de pequenas fontes radioativas (sementes), de forma a expor o tumor a uma alta dose de radiação, poupando, na medida do possível o recto e a bexiga. Estas sementes têm como objectivo eliminar as células cancerígenas sem prejudicar as células e órgãos vizinhos saudáveis.
A criocirurgia utiliza técnicas de congelação para induzir a morte celular pelo frio. A congelação da próstata é assegurada pela colocação de agulhas guiadas por ecografia transrectal. Dois ciclos de congelação-descongelação são usados, resultando numa temperatura de -40 ° C na glândula prostática.
O HIFU permite o tratamento da próstata através de ultrassons (utilizados na ecografia) focalizados para gerar áreas de intenso calor para destruir o tecido, através de um processo de morte celular designado por necrose. A hipertermia e cavitação acústica são responsáveis pela destruição dos tecidos. O transdutor é inserido no recto, produzindo lesões pequenas, mas muito bem definidas, com o objectivo de tratar a área tumoral. Esta técnica proporciona a vantagem de um tratamento transrectal com destruição do cancro.
Concluindo, cada vez mais se pode realizar o tratamento com intuito curativo da próstata sem internamento, permitindo ao doente um regresso precoce à sua actividade diária minimizando os efeitos laterais.
Em Portugal, as Unidades de Cirurgia de Ambulatório desenvolvem uma significativa actividade nesta área.
* Responsável pela secção de urologia da Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória