Buda – A sua vida e os seus ensinamentos, de Osho, publicado pela Pergaminho em junho deste ano, não pretende ser uma biografia. Até porque a vida do príncipe Sidarta Gautama, alguém que terá percorrido a terra há vinte e cinco séculos, para alcançar a iluminação e desaparecer sob uma árvore, permanece encoberta pela bruma do mito e da lenda – sendo mesmo possível que nunca tenha existido. O certo é que serve de ópio ou esperança para o povo alimentar o sonho de um dia também atingir o nirvana.
Num tom muito próprio, até porque os livros que nos chegam de Osho são transcrições dos registos das suas palestras e comunicações, de um constante questionamento, uma ironia peculiar, um humor irreverente – onde não faltam diversas anedotas para ilustrar as suas mensagens -, o autor deixa-nos aqui algumas das histórias mais emblemáticas que se contam sobre a passagem de Buda pelo mundo físico, ao mesmo tempo que as disseca, levando-nos a reflectir com ele e sobretudo a compreender que aquilo que lemos são sobretudo parábolas, com camadas e camadas de significado que devemos escavar – o que pode inclusive levar-nos a abrir mais o terceiro olho. Essa é, aliás, uma das mensagens centrais do livro: Todos temos em nós o potencial de budh – a capacidade de ver. Uma boa parte da retórica de Osho, que segue a senda de Buda, é sabermos despir-nos dos véus de ilusão, nomeadamente dos impostos pela religião que assenta sobretudo em mandamentos cegos. Os ensinamentos de Buda eram justamente, como Osho aqui reforça, os da negação – a certa altura podemos ler como o budismo assenta sobretudo numa profunda descrença. Buda era, afinal, essencialmente pragmático, e evitava quaisquer metafísicas.
A mensagem de Buda, filtrada à luz dos próprios ensinamentos de Osho, é a de que não é preciso percorrer nenhum caminho, nem é necessário transpor obstáculos inumanos. Basta parar e reconhecer no nosso ser mais profundo a religiosidade que nos é inata.
Osho dedicou a sua vida ao estudo da espiritualidade. Fundou vários retiros de meditação e comunas, ensinou e realizou palestras em todo o mundo. É considerado o autor indiano de maior sucesso: os seus livros vendem mais de um milhão de exemplares por ano e estão traduzidos em dezenas de idiomas. Figura controversa e irreverente, é autor de mais de seiscentos livros; todos eles transcrições das suas palestras. Mais recentemente, com edição da Pergaminho, que tem vindo a publicar a sua obra, foi publicado o livro ZEN – A história, os ensinamentos e o legado.
Leia também: Annie Ernaux, Nobel da Literatura 2022: Diários de emoções em bruto | Por Paulo Serra