Também ela apresenta feridas muito profundas pelo desgaste provocado pelos ventos e marés. A qualquer momento tudo pode ruir.
As instituições responsáveis pelo património sabem do problema, e desde os anos noventa que se tem vindo a adiar uma solução para travar o desmoronamento. Mas nada mais do que palavras.
Com a passagem do imóvel, em 2012, para a jurisdição da Câmara de Vila do Bispo, que pagou quatro mil euros pela sua posse por um período de 20 anos, julgava-se que havia chegado a hora. Mas, afinal, a Câmara tomou posse do monumento para não fazer nada! Continua fechado! Ainda não foi desta.
De resto, a fortaleza do Beliche parece estar amaldiçoada desde a sua contrução em meados do século XVI.
Destinada a ser um baluarte de defesa, não resistiu, porém, ao primeiro ataque de um pirata inglês. Por esses anos de 1587, Francis Drake bombardeou Sagres. O terramoto de 1755 deu cabo do resto. E o forte de Beliche, caiu como um castelo de cartas!
Pela posição estratégica que ocupa, numa esquina onde se começam a cruzar as águas do mediterrânio e do atlântico, é de supor que o local tenha sido utilizado desde tempos remotos para fins militares. Não se sabe ao certo a data da sua construção. Talvez no reinado de D. Manuel que ali esteve, ou de D. João III. A fortaleza do Beliche tinha como função, controlar aquele ancoradouro e proteger uma armação de atum que ali existia. Funcionava ainda como reforço defensivo da fortaleza de Sagres, contra os ataques do corso e da pirataria.
A fortificação atual remonta a uma reconstrução de 1632 determinada por Filipe III de Portugal, conforme se pode ler na inscrição sobre o portão de armas. E apesar de todos os revezes, voltou a ser recuperada já em meados do século passado, tornando-se numa pousada com jardim e salão de chá com vista privilegiada para o mar. Diz-se até que era o recanto onde discretamente Salazar ali vinha descansar.
A fortaleza “segue uma estrutura comum à arquitetura militar da época, com planta poligonal estrelada, estrategicamente com as baterias voltadas ao mar. A porta principal, de arco de volta perfeita, situa-se a poente, numa reentrância formada por um contraforte de uma torre” (Coutinho, 1997).No interior, existe uma segunda cortina que protege uma longa escadaria que dá acesso à praia e por onde entrariam os mantimentos e outros materiais em caso de cerco terrestre.
Igualmente encostada à muralha, localiza-se a capela de Santa Catarina, “pequeno templo de planta centralizada, composto por nave quadrangular coberta por cúpula e uma diminuta capela-mor”.
A falésia rochosa do seu lado nascente – de pedra e arenite – apresenta sinais de erosão e o risco de desmoronamento é enorme. O grave é que além do património que o forte representa em si mesmo, a derrocada, a acontecer, arrastará consigo a capela construída no limite do perímetro rochoso.
Já houve projetos de consolidação da falésia e foram encomendados estudos com esse fim ao LNEC e à Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Algarve, tendo a capela sido objeto de particular atenção, pela sua posição periclitante. Chegou até a ser considerada a hipótese da sua deslocalização!
Ficou tudo no papel das boas intenções!
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