Nos tempos que correm, tal como sempre aconteceu, e há-de acontecer no futuro, as escolhas e o planeamento são fundamentais na existência de uma sociedade.
Ao longo da minha existência de algumas dezenas de anos nunca assisti à elaboração de um planeamento coerente de longo prazo sobre as estratégias de desenvolvimento para a Sociedade portuguesa, foi sempre tudo feito ‘ao sabor da maré’. É por isso que se assiste hoje a esta lamentável situação do país.
Vejo com frequência os partidos políticos a prometerem distribuir riqueza pela população, mas não vejo as mesmas pessoas proporem coerentemente o aumento da produção da riqueza que se propõem distribuir
A existência de um país no seio do mundo global, pressupõe que existam escolhas na Sociedade, a partir das quais se deve definir um planeamento económico de longo prazo e da respectiva programação com metas e prazos bem definidos. Os planos de médio e curto prazo vêm na sequência do plano de longo prazo, só assim poderá haver uma coerência de políticas económicas e sociais tendo por objectivo o desenvolvimento económico e social e não apenas o mero crescimento. Na sequência das escolhas fundamentais para a Sociedade devem ser anuladas e/ou reformuladas os muitos milhares de leis, normas e regras que só atrapalham as pessoas e as empresas beneficiando apenas os malfeitores que vivem à custa dos outros.
Vejo com frequência os partidos políticos a prometerem distribuir riqueza pela população, mas não vejo as mesmas pessoas proporem coerentemente o aumento da produção da riqueza que se propõem distribuir, é uma falta de honestidade intelectual assustadora. Devemos distribuir a riqueza que efectivamente existe produzida e aumentada no país e não ir buscar lá fora, através de empréstimos, apenas para comprar votos.
Devemos escolher quais os sectores de actividade para dar a primazia de desenvolvimento, à agricultura, à indústria ou aos serviços? Quais indústrias? Quais serviços? Há necessidade de aumentar ou diminuir os impostos? Os impostos directos sobre o rendimento ou os indirectos sobre as transações? Sobre as pequenas e médias empresas ou sobre as grandes? Sobre as nacionais ou sobre as internacionais? Que apoios devem existir às pessoas ou às empresas? Que poupança? Que investimento? Que transportes? Qual o papel que devemos dar ao ensino e à investigação científica? Para quem deve existir um sistema judicial? Qual o papel que os poderes administrativos locais devem desempenhar? Há muitos milhares de outras opções tanto de ordem técnica como de ordem política.
Os partidos políticos têm um planeamento de curto prazo para a sua actuação designado por “agenda”, os seus membros do núcleo central também têm, ou deviam ter, conhecimentos sobre o papel e a necessidade do planeamento numa Sociedade, mas quando são chamados a pôr em prática esses conhecimentos fazem orelhas moucas, apesar de o Estado os financiar com os nossos impostos para terem um esboço de planeamento e o proporem aos cidadãos nas campanhas eleitorais, assim como um vasto conjunto de propostas políticas. Contudo, os fundos públicos são aplicados nas campanhas eleitorais, por vezes irracionais, apenas para caçar votos, essa caça faz-se mais facilmente se o sistema de ensino não funcionar bem e os alunos não adquirirem as capacidades de análise social para quando forem adultos activos exercerem conscientemente os seus direitos e deveres como cidadãos interessados no bem comum.
Muitos políticos, ou politiqueiros, dizem que “as ideologias não prestam para nada”, nada mais falso. A ideologia é definida como um conjunto de ideias e métodos, coerentes entre si, de organização e funcionamento de uma sociedade. Cada partido político tem a sua ideologia política especifica, por isso é que eles são diferentes entre si. É a partir da ideologia que se define o rumo de um país, cuja concretização é feita através do planeamento económico e das políticas sociais abrangentes de toda a Sociedade.
Nas décadas de 70 e 80 do século passado, tive o sonho de ver Portugal rico de ideias e concretizações que transformassem este país num lugar aprazível para todos aqueles que quisessem viver cá sem necessidade de saírem para outras paragens. Esse sonho foi fumaça levada pelo “vento” da incompetência e da má fé.
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