As áreas marinhas protegidas são frequentemente promovidas como zonas de preservação essencial para a biodiversidade e para a saúde dos nossos oceanos. Contudo, um estudo recente do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e da Universidade do Algarve (UALg) revelou uma realidade preocupante: a maioria das áreas marinhas protegidas na União Europeia não oferece a proteção eficaz que o seu nome sugere. Este estudo mostrou que apenas 11,4% das águas da União Europeia estão designadas como protegidas e, ainda assim, em 86% dessas zonas são permitidas atividades que destroem os ecossistemas, como a dragagem, a mineração e as práticas de pesca destrutiva.
Em Portugal, a situação é ainda mais desanimadora. Apenas 4,5% das nossas águas estão sob algum estatuto de proteção, o que coloca o país na 21.ª posição entre os 27 Estados-membros da União Europeia. Para um país como o nosso, que sempre teve uma ligação histórica e cultural com o mar, estes números são alarmantes e indicam uma urgente necessidade de mudança.
A saúde dos nossos mares é essencial para o turismo, a pesca e para a própria identidade cultural da região do Algarve
As áreas marinhas protegidas devem ser verdadeiros refúgios para a vida marinha, garantindo a preservação dos ecossistemas contra a exploração desenfreada e a destruição ambiental. No entanto, como destacaram os investigadores liderados por Bárbara Horta e Costa, estas zonas continuam expostas a impactos negativos devido à falta de regulamentação efetiva. A investigadora sublinha que, embora existam várias políticas europeias a incentivar a criação destas áreas, elas não conseguem impedir que se realizem atividades intensas e destrutivas no seu interior, tornando-as ineficazes.
A União Europeia estabeleceu metas ambiciosas para 2030: proteger 30% das suas águas, com 10% dessas sob uma proteção rigorosa. No entanto, sem mudanças profundas nas estratégias e nas legislações que regulam estas áreas, será impossível alcançar esses objetivos. Precisamos de medidas concretas e de uma fiscalização rigorosa para assegurar que estas zonas sejam verdadeiramente protegidas e que cumpram o seu papel de preservar a biodiversidade marinha.
O Algarve, uma região tão dependente da sua costa e dos seus recursos marinhos, deve assumir um papel central neste debate. A saúde dos nossos mares é essencial para o turismo, a pesca e para a própria identidade cultural da região. Se não garantirmos uma proteção real para estas áreas, estamos a comprometer o futuro da nossa economia e a sustentabilidade dos nossos ecossistemas.
As áreas marinhas protegidas não podem continuar a ser uma mera ilusão, um conceito vazio sem impacto prático. Elas precisam de ser uma realidade sólida, capaz de resistir às pressões económicas e de assegurar que os nossos mares e oceanos sejam preservados para as gerações futuras. Chegou a hora de agir de forma decisiva, com políticas claras e eficazes, que coloquem a conservação do meio marinho como uma prioridade real e inquestionável. O futuro do Algarve e de toda a União Europeia depende da nossa capacidade de transformar estas intenções em ações concretas.
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E ainda: Investigadores concluem que maioria das áreas marinhas protegidas da Europa não têm proteção real