A alimentação e a nutrição na sociedade de consumo são credoras, cada vez mais, da atenção dos educadores e das instituições responsáveis pela saúde e uma vida com mais qualidade.
Não há saúde nem bem-estar sem alimentação adequada e a satisfação de padrões nutricionais adequados às necessidades de cada um. Uma complexidade de fatores exige a intervenção de pessoas autorizadas para preparar as diferentes gerações para hábitos alimentares que tragam ganhos em saúde.
Ninguém desconhece que há intolerâncias alimentares e alergias, existe a doença celíaca (intolerância alimentar ao glúten), existem distúrbios alimentares (caso da anorexia, em que se fazem restrições alimentares até ganhar doenças que põem em risco a saúde, e também é o caso da bulimia, em que se come compulsivamente até vomitar); há a preparação dos alimentos que requerem higiene; há quem pratique regimes de caráter vegetariano, há quem pense que precisa de tomar a todo o instante suplementos alimentares e que se sinta atraído por alimentos que afirmar ter propriedades saudáveis, os chamados alimentos funcionais…
A matéria é infindável, requer um quadro lógico para que o ser humano consolide comportamentos que lhe ponham na mesa alimentos saudáveis e apetitosos, baseados na diversidade alimentar, comer não é pecado, mas há quem constantemente pinha sinais de perigo a propósito de todos os alimentos.
Há dias precisei de ir a um consultório médico, em cima da mesa uma brochura que referia dieta para dislipidemias, colesterol e triglicéridos. Acontece que a adesão a uma dieta deste tipo tem que ser chancelada por um profissional de saúde que recorde à pessoa a quem prescreve um regime que existe a Roda dos Alimentos, é norma essencial que acolhe os grupos de alimentos que não é possível abolir sob pena de se ficar subnutrido.
O que escrevem os autores do folheto? Dizem que as dislipidemias significam aumento de gordura no sangue, principalmente de colesterol e triglicéridos, que podem aparecer associadas a doenças como a diabetes e a obesidade e que a presença de níveis elevados de triglicéridos e colesterol no sangue aumenta o risco de doenças cardiovasculares, tais como o enfarte, a trombose e a arteriosclerose. E depois definem os alimentos prometidos, os alimentos que devem ser ingeridos em quantidade moderada e os alimentos não aconselhados.
Quanto aos alimentos prometidos é importante que o médico esteja em consonância com o nutricionista, em rigor não é indispensável beber leite e iogurtes magros e chás de ervas; os alimentos ingeríveis em quantidade moderada propostos são as carnes magras, o peixe (mesmo o peixe gordo?), o azeite, as leguminosas secas, batata, arroz e massa; segue-se uma listagem de alimentos não aconselhados, lista enorme, encabeçada pelo leite, iogurte e queijos gordos, manteiga e margarina, gelados, as carnes gordas, os produtos de salsicharia e charcutaria, a banha e toucinho, os alimentos açucarados, os refrigerantes e bebidas alcoólicas. Não deixa de causar espanto, e dou simplesmente o exemplo das gorduras de natureza animal e vegetal: nenhum ser humano pode viver sem ingerir gorduras, não se pode viver sem sal, daí parecer-me que toda esta linguagem é um convite seja à desistência seja ao abandono de tanta severidade.
Não se pode aconselhar dizendo que as gorduras devem ser utilizadas apenas nas quantidades indispensáveis para temperar e cozinhar e quando possível em cru – é uma proposta que desobedece ao princípio de que as gorduras são indispensáveis, o fundamental é aprender a gerir porções adequadas.
Toda a retórica da restrição severa, fora das situações graves em que o regime alimentar impõe um quadro restritivo sobre observância médica, leva ao seu abandono e até mesmo à desistência de quem está doente. É tudo uma questão de comunicação onde impere o bom-senso e o profissional de saúde, quando prescreve, saiba que o doente está capaz de aderir. Quem atemoriza na linguagem cria doentes relutantes ou desistentes, nada de mais grave pode acontecer.
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