Março é o mês em que se celebra o Dia da Árvore e das Florestas, o mês em que volta a Primavera e se celebra também o Dia Mundial da Poesia.
A Ecologia e a Poesia, duas áreas que me apaixonam, juntam-se comemorativamente neste mês. E até uma outra área que não me é indiferente entra aqui: a política.
Neste momento em que escrevo ainda não se realizou a Reunião do Conselho de Ministros, onde o futuro da floresta será debatido.
Recordo que a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) apelou ao Presidente da República para que inicie o seu segundo mandato inaugurando um debate amplo e consultando especialistas e representantes do sector florestal.
As árvores e a floresta são importantes para o nosso bem-estar e ninguém terá dúvidas de que é crucial garantir o futuro da Floresta portuguesa, pois é um activo importante para a retoma da economia.
Tudo está ligado e por isso, sem uma correcta gestão e sem apoios ao investimento florestal ficamos mais pobres a longo prazo.
A floresta é uma densa rede de relações entre todos os membros do ecossistema, do qual também somos parte.
Às vezes sento-me a escrever perto das árvores e penso em todas estas questões, porque não posso deixar de estar envolvida com o que me rodeia.
Umas vezes sem inspiração
outras a me sentir poeta social
por isso quero com a razão e a emoção
levar a poesia a quem lê o jornal
Quando ando pela serra algarvia, penso nos nossos antepassados que cuidaram das árvores que nos dão sombra e frutos. Muitos deles eram analfabetos e o seu sentir, tal como as suas palavras não ficaram no papel, mas o suor das suas mãos envolveu cada árvore tornando-a poema táctil.
O último poema que escrevi ao meu pai foi publicado no suplemento DN Jovem. Quando o Diário de Notícias chegou, o meu pai tinha partido uns dias antes e já não leu o poema a ele dedicado. Li-o junto da última árvore que ele abraçou antes de me abraçar e me morrer nos braços.
Por isso cada árvore é uma extensão desse abraço, que nunca poderei esquecer, e que inspira cada dia. Foi em grande medida a partir da experiência de morte que a poesia se tornou uma parte tão importante da minha vida.
Poeta não é só quem faz poesia. É também quem tem sensibilidade para compreender a poesia nessa ambiguidade chamada interpretação.
As árvores sempre inspiraram os poetas. Camões escreveu um soneto que começa assim: “Árvore, cujo pomo, belo e brando (…)” e termina desta forma:
“Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.”
Neste Inverno de pandemia, que nos parece tão longo, nunca a Primavera foi tão desejada!
É já no próximo dia 20 de Março às 9h37 que começa a estação de tantos encantos.
E como diz o poeta Ruy Belo, na parte final do seu poema intitulado “Árvore rumorosa”:
“Não há inverno rigoroso que te impeça
de rematar esse trabalho que começa
na primeira folha que nos braços te desponta
Explodiste de vida e és serenidade
e imprimes no coração mais fundo da cidade
a marca do princípio a que tudo remonta.”
A 21 de Março, para além de se celebrar o Dia Mundial da Poesia, da Árvore e das Florestas, é tambémDia Internacional Contra a Discriminação Racial e Dia Internacional do Síndrome de Down.
Que a poesia aqueça os nossos dias e, se for possível, abracemos uma árvore, é um abraço tão terapêutico!
Há cientistas que referem que esse contacto directo com as árvores, num abraço envolvente, ajuda a reduzir o stress e até a dor crónica, porque o nosso corpo tranquiliza ao retornarmos à natureza, ao nosso ambiente original.
Abraço árvores sábias e discretas
que me acolhem no seu regaço
percorro troncos rugosos
filhos de um tempo que abriga cansaços
e habito silêncios da «Serra-Mãe»
dando tons de vida à morte dos dias.
Maria Luísa Francisco
* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico