A política deveria ser entendida como uma atividade nobre de colaboração entre os detentores de ideologias diferentes para decidirem o futuro da Sociedade e zelar pelo bem comum. A triste realidade é muito diferente.
A defesa de cada ideologia – conjunto coerente de ideias de organização da Sociedade – pelos seus militantes deve ser feita com entusiasmo, convicção e tenacidade, mas nunca com sectarismos incongruentes. A escolha dos caminhos a percorrer deve ter sempre presente o bem comum, recheado de simplicidade e honestidade intelectual e social.
Somos um país rico em ideias e em esforço, escasso de recursos naturais, ainda assim temos ferro, ouro, prata e cérebros, basta aproveitá-los e conjuga-los. Desperdiçamos água, energia solar e madeira, os cérebros desenvolvemo-los e deixamo-los saírem para os outros países que se aproveitam do nosso esforço colectivo e familiar para continuarem a desenvolver-se, enquanto Portugal fica com os custos. Parecemos um Povo masoquista, trabalhamos para os outros.
Dói-me ver os militantes partidários actuarem como os adeptos mentecaptos do futebol, os quais quer ganhem quer percam partem tudo por onde passam, “se és do meu clube tens razão”, não raciocinam, limitam-se a repetir frases construídas nos gabinetes recônditos dos partidos políticos, actuando socialmente como autênticos gângsteres. É triste ver pessoas a digladiar quem não concorda com as suas opiniões, as quais reflectem quase sempre os seus interesses pessoais de emprego, empresariais ou obscuros. Há quem deixe de cumprimentar outros por serem apoiantes de outros partidos, segundo a sua actuação, só deveria existir a sua própria opinião, são cérebros bloqueados. Não discutem políticas concretas com argumentos sólidos, apenas mandam ao ar frases feitas sem perceberem nada do que dizem.
O respeito pelas opiniões diferentes é fundamental em democracia, ninguém é obrigado a aceitá-las, mas devem apenas compará-las com os seus próprios argumentos.
O sistema de ensino deve ter um papel central para debelar esta impreparação política da população. No antigo regime existia uma disciplina de política, no antigo sétimo ano do Liceu, que se chamava Organização Política e Administrativa da Nação, a qual foi desenhada à medida do regime salazarista, mas servia apenas para alguns professores mostrarem aos alunos o quão errado estava aquele regime. Hoje em democracia, não se ensina a liberdade política nas nossas escolas, parece um contrassenso, mas não é porque a ignorância do Povo serve os interesses de uma classe política oportunista, incompetente e desonesta. Hoje os jovens aprendem apenas política se entrarem para a “juventude de …”, aí serão ensinados e enquadrados segundo a ideologia desse partido, atendendo apenas aos objectivos do mesmo. O sistema de ensino forma analfabetos funcionais e indigentes políticos sem capacidade de discernir sobre propostas políticas opostas entre si.
Deveria existir uma disciplina de ensino e debate de política no ensino secundário.
Há um partido político novo com rápida ascensão que é o reflexo da podridão política neste país.
Há cinquenta anos os portugueses tiveram um sonho que se esfumou na voracidade dos políticos incompetentes.
Esta talvez seja uma forma romântica de um velho meditar acerca do país.
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