Ilustração científica significa criar desenhos representativos de informação científica, tornando-a inteligível aos olhos de públicos mais vastos.
As Ruínas Romanas de Milreu fazem parte de um sítio arqueológico, cuja ocupação humana remonta ao século I d.C., prolongando-se até à actualidade. De facto, aqueles muros, pavimentos e canalizações foram alterados e acrescentados ao longo dos séculos, de acordo com as necessidades dos seus habitantes.
O seu estudo científico é, por isso, complexo e de difícil transmissão e divulgação, tendo já originado três teses de doutoramento, uma das quais redigida em alemão e dezenas de artigos científicos.
É neste aspecto que a ilustração científica é uma ferramenta eficaz de interpretação visual da ruína arqueológica, através de um trabalho de observação, selecção da informação relevante e criação de imagens esclarecedoras da arquitectura, dos elementos artísticos e da funcionalidade das construções romanas.
Deste modo, o desenho “permite a composição de vários elementos não disponíveis em simultâneo”, como por exemplo, a representação do existente, situando o visitante no espaço físico, a reconstrução de partes inexistentes ou escondidas ou a “gestão da profundidade de campo” a partir da posição do observador.
Afirma-se um campo desafiante no desenvolvimento de competências em comunicação visual aplicada à Arqueologia, através da procura do equilíbrio entre Arte e Ciência.
O suporte utilizado pode ir da imagem digital à ilustração com recurso de técnicas tradicionais, como a tinta da china e o grafite.
O Prof. Theodor Hauschild, que desenvolveu o estudo da VillaRomana de Milreu nas décadas de 1970 e 1980, foi pioneiro na utilização da ilustração científica como suporte visual da interpretação e reconstituição arquitectónica do Templo (e que deu origem mais tarde à produção da maquete que pode ser vista no núcleo museológico).
Através do Programa deConservação e Requalificação das Ruínas Romanas de Milreu, enquadrado peloPrograma Operacional CRESC Algarve 2020, a Direcção Regional de Cultura do Algarve pretende recuperar a ilustração científica como ferramenta estruturante da divulgação do Património Cultural.
Na actualidade, o desenvolvimento deste trabalho envolve um conjunto de pessoas que organizam e preparam os conteúdos históricos e arqueológicos, que verificam o rigor da informação científica e que transformam em informação visual com forte carga comunicativa. A fotografia constitui também uma fonte de apoio importante neste trabalho, assim como a pesquisa bibliográfica, arquivística e o conhecimento do espólio arqueológico depositado nos museus.
A Direcção Regional de Cultura do Algarve agradece ao Professor Doutor Artur Ramos (FBAUL) e Professor Doutor João Pedro Bernardes (UALG) o seu envolvimento nesta missão e gosto comum de tornar o conhecimento científico das Ruínas Romanas de Milreu acessível a todos.
Bibliografia: P. Salgado, et al,“A ilustração científica como ferramenta educativa”, 2015.
Cristina Tété Garcia
(Arqueóloga)
* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico