“Os livros não mudam o mundo.
Os livros mudam as pessoas e as pessoas mudam o mundo”
(inscrição numa das paredes da BML)
A Biblioteca Municipal de Lagoa foi fundada em 1983. Começou a sua existência no edifício do antigo depósito de água, hoje, Arquivo Municipal. Aí permaneceu até ser transferida para o atual edifício, sendo este uma construção do início do século XX e inicialmente destinado a Teatro Municipal que nunca chegou a ser, devido ao profundo desagrado da população que não aceitou a edificação de um teatro, espaço profano destinado a espetáculos, sobre o lugar santo do antigo cemitério, porque, efetivamente, o edifício havia sido construído no espaço do antigo Cemitério.
Até que, em 1992, foi assinado o protocolo entre a Câmara Municipal de Lagoa e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas para a construção de uma nova biblioteca a instalar no abandonado edifício do antigo teatro.
Concluídos os trabalhos de adaptação e remodelação do edifício, no dia 23 setembro de 1997, celebrou-se a Cerimónia de Inauguração pelo então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, na presença do anfitrião, o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Joaquim Carlos Piscarreta Rego.
À cerimónia compareceram personalidades e entidades oficiais, mas, sobretudo, compareceu a população de Lagoa que acorreu entusiasmada, expectante e orgulhosa da sua nova Biblioteca, um espaço amplo, moderno e funcional, uma casa de livros e de cultura num edifício excelentemente recuperado. Um lugar de informação, arte e lazer, de múltiplas leituras, de acessos digitais, de palestras e conferências de encontros com escritores e apresentação de obras, clubes de escrita e de leitura, assim como inúmeras ações dirigidas ao público jovem e infantil.
Passados 40 anos de trabalho realizado, de sucessos e adversidades, é tempo de celebração e de reflexão sobre o que se fez e sobre o que pode ser alterado e melhorado. As inovações tecnológicas e digitais, as redes sociais, a inteligência artificial, benefícios e desafios, são realidades que não param de nos convocar e surpreender. Vivemos tempos de possibilidades inimagináveis e imprevisíveis e cujo uso nos coloca sérios questionamentos éticos, sociais e morais, que nos obriga a refletir sobre o lugar e o papel das bibliotecas públicas, sobre o lugar e o papel da Biblioteca de Lagoa.
Serão necessárias novas respostas, novos projetos e caminhos que implicam atualizações, novos serviços, recursos e atividades, em consonância com as novas tendências e as expectativas de toda a comunidade, incluindo os migrantes, as minorias, os cidadãos socialmente excluídos ou com necessidades especiais. Também modernizar a Biblioteca no caminho, sempre inacabado da transição digital, mas sem esquecer o livro, a leitura e o espaço físico concreto da BML: o lugar que pisamos e onde o encontro, o verdadeiro encontro, é possibilitado.
Ter presente que as bibliotecas são lugares sociais por excelência, lugares de reunião e encontro, lugares de efetiva prática democrática onde toda a gente, sem exceção, pode entrar e usar, expressar-se livremente, debater, refletir, ter voz e opinião. Toda a gente e de forma gratuita.
Nota: O texto mais desenvolvido será publicado na Arade. Revista do Arquivo Municipal de Lagoa, n.º 2.
Clara Andrade
(Biblioteca Municipal de Lagoa – [email protected])
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