Como editora, é difícil não ficar impressionada com o desaparecimento de uma Feira do Livro. Diria antes, o definhar ano a ano de um evento que em tempos foi uma referência em Faro. Este ano, Faro, a capital algarvia, depois de anos a quase ignorar a aposta na renovação e divulgação da Feira realizada em Agosto, alterou a localização da mesma e diminuiu a quantidade de dias. Assim, passámos de tradicionalmente duas semanas para três dias de Feira. Quase motivo para dizer – Venha conhecer a Feira do Livro mais curta do Algarve.
Para quem tem de carregar os caixotes com os livros, inclusive vindos de outras partes do Algarve e de Portugal, a experiência de três dias pode tornar-se talvez cara demais. E assim, para continuar a tradição dos outros anos, participa cada vez menos gente, sendo a oferta cultural muito reduzida na diferença. Uma atitude que de novo, prejudica editores independentes e os próprios leitores que procuram leituras que não estão em venda em grandes superfícies, bombas de gasolina ou postos de Correios. Numa era de homogeneização do pensamento, não se pode dizer que seja contra a corrente dominante.
No entanto, e mais estranho, é haver uma lista de editores e livreiros a nível nacional, utilizada por várias outras Câmaras, como forma de divulgação para a participação diferenciada. Não é por boca a boca que, por exemplo, a Câmara de Tavira convida editores a participar na sua feira que tem direito a duas semanas e atrai editores e livreiros de todo o país. O regulamento e as condições são públicas na página da Câmara de Tavira. O mesmo se pode dizer de várias outras cidades das quais, como editora, me chegam convites com as condições das Feiras.
Faro, de novo a marcar pontos no “networking”, avisa por telefone uns escolhidos sabe-se lá por quem, visto que a base de dados de vários anos deveria ser bem maior do que o número de telefonemas feitos. Evidentemente, no que toca a variedade, ninguém carrega centenas de quilos de caixotes com livros por três dias, sobretudo quando nem todos são mega grupos editoriais, com grandes armazéns para logística. E o interessante de uma feira, qualquer que ela seja, é ter produtos diferentes.
Este ano para compensar, ao contrário dos últimos anos, há divulgação na cidade sobre o evento. Editores participantes é que são poucos mas a ocuparem muito espaço para ir de encontro ao tamanho do cartaz na entrada da cidade. Penso que o primeiro que vi ser feito sobre alguma feira do livro nos últimos cinco anos, onde nem um poster no Jardim Manuel Bívar era colocado. Desengane-se quem acha que este evento foi uma aposta na renovação. É mais do mesmo onde “o importante não é ser, mas parecer.” Agora chama-se é Festival Literário que soa mais “pomposo”.
(CM)