As pequenas torres cilíndricas adossadas aos quatro cantos do edifício são a imagem forte da Casa Rural de Milreu, um dos mais interessantes exemplos da arquitetura tradicional algarvia.
A sua origem remonta ao reinado de D. Afonso III, quando a região do Algarve foi conquistada pelos reis cristãos peninsulares e integrada no reino português.
O alargamento da construção terá acontecido nos finais do século XV ou inícios do século XVI, tendo então sido construídas a cozinha, mais espaçosa, a casa de dentro (quarto de dormir), o celeiro e o estábulo, com o seu sobrado. A casa de fora funcionava como sala, onde também seriam recebidas as visitas.
A Casa Rural resistiu ao terramoto de 1755, porque as suas fundações assentam sobre as robustas construções da época romana. No século XIX, os proprietários de então, fizeram obras de ampliação da Casa Rural, criaram uma nova fachada principal, em que variadas portas e janelas permitiam encher de luz o interior. A subida do pavimento em cerca de quarenta centímetros e a subida geral de toda a cobertura deu ao edifício o aspeto atual.
Já na posse do Estado Português, a Casa Rural foi recuperada em 2001. Desde então, tem acolhido inúmeras exposições e atividades culturais. Destacamos a exposição de Júlio Pomar em 2009. E as muitas exposições de arte de alunos e artistas nacionais dinamizadas pelos Professores Miriam Tavares e Pedro Cabral Santo da Universidade do Algarve. Ou as oficinas de artes tradicionais, palestras proverbiais. Diversas associações e artistas locais tiveram também a oportunidade de divulgar os seus trabalhos. E as conferências em que podem participar todos os que amam o Mundo Antigo.
Vinte anos depois, a vetusta Casa Rural voltou a acolher a mesma equipa, que recuperou os revestimentos exteriores, garantindo a sua impermeabilização, nomeadamente rebocos, caixilharias de portas e janelas, reparou o telhado e ainda executou uma caleira para desvio de águas pluviais das ruínas arqueológicas, reforçando a solidez e capacidade de resistência da Casa Rural.
Esta obradecorreu entre fevereiro e junho deste ano, foi enquadrada pelo Programa de Conservação e Requalificação das Ruínas Romanas de Milreuefinanciada pelo Programa Operacional CRESC Algarve 2020, coordenado pela CCDR Algarve.
Mal podemos esperar para reabrir o espaço da Casa Rural à participação da comunidade, sinal da mudança deste tempo.
Até lá, podemos sempre apreciar a sua bela arquitectura e imaginar uma família a aquecer-se na casa de fogo, mal imaginando que sob o chão que pisavam, a casa romana, silenciosa, os observava e protegia.
Cristina Tété Garcia
(Coordenadora das Ruínas Romanas de Milreu – DRC Algarve)
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de outubro)