O Partido Socialista de Olhão, apresentou esta semana, em Assembleia Municipal, uma moção contra o Cristóvão Norte, candidato à Câmara de Faro e maior adversário de António Pina. Moção essa que foi aprovada, mas apenas com os votos do partido, uma vez que o PAN, a CDU, o CHEGA e o PSD se ausentaram da sala, recusando participar no ato.
Daqui a uns dias fará um mês que foi publicada a minha crónica intitulada A (carência de) saúde democrática do líder olhanense, a propósito da conduta infeliz que o Presidente da Câmara de Olhão adotou face à candidatura independente de dois dos seus vereadores, às próximas eleições autárquicas. Hoje, corta-me as asas à imaginação ao obrigar-me a atribuir a esta crónica a mesma manchete, acrescentando uma segunda parte perante um episódio ainda mais censurável.
A moção apresentada teve como fundamento a frase “Olhão tem uma fachada bonita, mas lá por dentro é só degradação” proferida no programa televisivo de comédia, o “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, no qual ambos os candidatos estiveram presentes. Vejamos, por partes.

Substancialmente, a frase foi despida de contexto para ser usada como arma de arremesso político. O humorista apresentador falava da existência de dois Algarves, um bonito e arranjado, para os turistas, e outro, degradado, para os portugueses. O candidato referiu: “Nós não queremos isso, nem para Faro, nem para Olhão, nem em lado nenhum. Nós não queremos que os algarvios sintam que o Algarve é para os outros. É para eles.”
Isto é, enquanto o Cristóvão Norte condena uma política local que favoreça somente o turismo em detrimento dos locais, que habitam o ano todo uma cidade que só oferece condições àqueles que para cá vêm de férias, a preços exorbitantes que excluem automaticamente as carteiras comuns, o António Pina usa a Assembleia Municipal, um órgão democrático sério do poder local, como instrumento de campanha. E mais uma vez, uma campanha que se baseia numa tentativa de boicote ao partido da oposição.
Circunstancialmente, esta condenável situação usa como mote palavras ditas num contexto cómico e de humor, cujo objetivo é o entretenimento dos espectadores, e não um debate sério e informativo. Quem diria que a carência de espírito democrático iria tão longe assim. O António Pina só não processa também o Ricardo Araújo Pereira porque a decisão do mérito da causa já não sairia em tempo útil antes das eleições.
Senhor Presidente da Câmara de Olhão, falo para si: a existência de oposição é sintoma da nossa louvável democracia e qualquer tentativa de a eliminar é um passo a caminho do seu fim. Mais uma vez deixo a minha sugestão: promova as suas virtudes pessoais e não se esforce tanto em derrubar toda e qualquer ameaça à sua política de dinastia. Demonstra fraqueza, mas sobretudo que não respeita as regras do jogo democrático.
A liberdade de expressão é um direito constitucionalmente consagrado após a ditadura. Se lhe der a minha palavra que não escrevo uma parte três, o Senhor Presidente promete que não me processa por esta crónica?
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