Em outubro de 2025 o governo anunciou que ia antecipar a meta de 30% de áreas marinhas protegidas com a nova Reserva Natural Marinha: Madeira-Tore e Banco de Gorringe. Mas será que podemos ir mais além?
O mar recicla cerca de 30% do dióxido de carbono que produzimos, liberta mais de metade do oxigénio que respiramos e, apesar de desconhecermos grande parte deste gigante azul, é a casa de milhares de espécies, umas mais conhecidas como a sardinha (Sardina pilchardus) e outras mais bizarras como o verme gigante da Antártida (Eulagisca gigantea).

Doutorando em Ciências do Mar, da Terra e do Ambiente na Universidade do Algarve e membro do partido LIVRE
Há milhares de anos que navegamos no Planeta Azul. Sustentou-nos durante séculos e, ainda assim, ignoramos os seus limites e avisos
Durante séculos, pensámos que podíamos despir o mar do seu peixe, afundar todo o lixo que produzimos nas suas profundezas e cobrir o planeta com gases de efeito de estufa sem consequências. Hoje, sabemos que não é assim. Sabemos que 90% das zonas de pesca estão exploradas no limite ou acima da sua capacidade, que poderemos ter mais lixo do que peixes no mar e que a maioria dos recifes de corais desaparecerão devido ao aquecimento global. Mas sabemos também – e sabemo-lo há algumas décadas, que o mar é extremamente resiliente se lhe dermos oportunidade de recuperar. Sabemos que, em zonas afetadas pela pesca intensiva, podem voltar a nascer florestas de algas gigantes. Sabemos ainda que peixes que desapareceram de determinados mares, conseguem regressar, repovoar e devolver vida a habitats anteriormente explorados. E sabemos que podemos fazer tudo isto criando áreas marinhas protegidas.
Criar áreas marinhas protegidas é uma das formas mais eficazes de preservar e restaurar os ecossistemas marinhos que tanto explorámos. Estas áreas recuperam espécies ameaçadas, protegem ecossistemas frágeis, como sapais ou recifes de coral, e são os berçários de muitas espécies marinhas. A meta de 30% de áreas marinhas protegidas é um passo crucial para a proteção dos oceanos, mas ainda estamos longe de chegar a esse destino.

Precisamos de criar planos de gestão para planear, definir e acompanhar as medidas de conservação ambiental de cada área protegida. Em 2025, apenas 35% das áreas marinhas protegidas tinham planos concretos de proteção – sem plano, não sabemos o que proteger ou como o fazer.
Precisamos de meios, recursos e monitorização para proteger. Este ponto é uma das causas da falta de planos de gestão. É preciso que a proteção seja rápida e passe do papel para a ação. Além disso, é fundamental acompanhar a implementação destas áreas para que saibamos se a proteção é adequada ou se são precisos ajustes aos planos de gestão – instrumentos essenciais para a proteção eficaz das áreas marinhas protegidas.
Precisamos também de aumentar os níveis de proteção. As áreas protegidas nem sempre protegem totalmente os ecossistemas, e em Portugal a proteção mais restrita é vestigial. Atualmente, as áreas com forte proteção são inferiores a 1%. Isto significa que a grande maioria das áreas protegidas pode ter atividades danosas como a pesca.
Há milhares de anos que navegamos no Planeta Azul. Sustentou-nos durante séculos e, ainda assim, ignoramos os seus limites e avisos. Hoje, porém, sabemos que podemos mudar. Podemos ser a geração que devolve ao mar o que ele sempre nos deu: saúde, oxigénio, alimento, e futuro. Proteger 30% da área marinha portuguesa pode ser uma viagem atribulada, mas é esse o destino.
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