O risco de uma guerra nuclear na Europa continua a ser considerado remoto, mas o seu impacto potencial é um dos cenários mais preocupantes para a segurança global. Para além da devastação imediata das explosões, uma das maiores ameaças vem da chuva radioativa, capaz de contaminar territórios distantes durante semanas ou meses.
Cenários e objetivos das detonações
De acordo com o site Meteored, especializado em meteorologia e fenómenos atmosféricos, mesmo num conflito limitado envolvendo cerca de 400 a 600 ogivas nucleares, os efeitos seriam devastadores. As explosões atingiriam bases militares, centros de comando e grandes áreas urbanas, criando precipitação radioativa intensa nas zonas circundantes e riscos de contaminação muito além do local de detonação.
Explosões em altura ou ao nível do solo
As características da explosão influenciam a extensão da precipitação. Em detonações em grande altitude, a precipitação local é menor, mas surge um pulso eletromagnético capaz de interferir nas comunicações. Explosões ao nível do solo, por outro lado, levantam detritos e solo irradiado que aumentam drasticamente a chuva radioativa local e regional, tornando os arredores perigosos por períodos prolongados.
Segundo a mesma fonte, nas primeiras 24 a 48 horas, partículas grandes, superiores a 100 micrómetros, caem nas proximidades do ponto zero, formando a chamada elipse de precipitação radioativa, alinhada com a direção predominante do vento na troposfera inferior. Nestas áreas, as doses podem atingir níveis letais, a dezenas de quilómetros a favor do vento.
O transporte da radiação pelo vento
Partículas menores, entre 0,1 e 50 micrómetros, permanecem suspensas na troposfera, sendo transportadas pelos ventos por distâncias muito maiores, com impacto em toda a Europa. Explosões de maior potência, superiores a 100 quilotons, podem atingir a estratosfera, espalhando radiação globalmente, embora de forma muito diluída, como observado nos testes nucleares das décadas de 1950 e 1960.
Europa: direção dos ventos e áreas mais afetadas
A circulação atmosférica é um fator decisivo. Na Europa, os ventos predominantes sopram de oeste para leste, especialmente entre os 40° e 60° de latitude norte. Isto significa que a maior parte da precipitação radioativa seguiria essas direções, afetando sobretudo países da Europa Central e Oriental e do Nordeste Europeu, incluindo Polónia, Países Bálticos, Finlândia, Suécia, Noruega, Alemanha Oriental e Chéquia.
Portugal, Espanha, sul de Itália e Grécia seriam menos expostos, embora nenhuma área pudesse ser considerada totalmente segura.
Alcance e impacto da radiação
De acordo com simulações divulgadas pelo Meteored, em raios de 500 a 800 quilómetros do ponto de detonação ainda poderiam registar-se doses elevadas, especialmente se as partículas contiverem isótopos de meia-vida intermédia como césio-137 e estrôncio-90.
Entre 800 e 2.000 quilómetros, as doses seriam mais baixas, mas poderiam deixar contaminação de longo prazo no solo. A distâncias superiores a 2.000 quilómetros, a contaminação seria ligeira, mas mensurável, tal como aconteceu na Suécia após o acidente de Chernobyl.
A trajetória da precipitação depende da direção do vento nos dias seguintes às explosões. Mudanças de apenas 30 a 40 graus podem deslocar a área mais afetada milhares de quilómetros, tornando imprevisível o alcance da contaminação. Segundo a mesma fonte, a ameaça invisível de uma guerra nuclear poderia atravessar continentes, demonstrando que o perigo vai muito além da explosão inicial.
















